quarta-feira, 30 de março de 2016

>> A inibição intelectual como estratégia de adaptação

"Ser um verdadeiro idiota, é um bom remédio para minha doença. Eu tenho necessidade de um tratamento radical: ser um idiota, isto será a quimioterapia de minha inteligência. É um risco que eu tomo sem hesitar. Mas se, em seis meses, você perceber que eu me esgoto um pouco mais, intervenha! Meu objetivo não é tornar-me estúpido e cupido, mas deixar circular moléculas no meu organismo, para purificar meu espírito muito doloroso. Mas não intervenha antes de seis meses. É também um risco. Tanto mais que ser imbecil comporta muito mais prazer que viver sob o jugo da inteligência. É-se mais feliz, é certo. Eu não deveria guardar o sentido da imbecibilidade, mas os elementos benéficos que aí nadam como oligoelementos: a felicidade, a uma certa distância, uma capacidade de não mais sofrer de minha empatia, uma leveza de vida, de espírito. De despreocupação! Finalmente, tornando-se idiota, eu poderia, por uma vez, fazer prova de uma surpreendente inteligência. Você me acha pérfido?" (1)
(1) Martin Page, Como eu me tornei estúpido, Comment je suis devenu stupide. Le Dilettante, 2000.

Inibir-se para sobreviver...
A inibição é uma estratégia poderosa cujos efeitos são por vezes irreversíveis. Quando se desencadeia uma energia considerável para sufocar, ver destruído, todo um pano de sim mesmo, resulta que os efeitos procurados ultrapassam o objetivo inicial. Trata-se de apaziguar um sofrimento insidioso, chega-se a um empobrecimento de si e um real deserto interior. Resulta em personalidades apagadas, perdidas numa existência sem significação e, o mais frequente, isoladas socialmente. O objetivo de 'se tornar estúpido" tornaram-nas indiferentes a elas mesmas e transparentes aos olhos dos outros.