quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Equilíbrio de vida, sobredotação e companhia: a arte da felicidade...

>> E quando se é sobredotado?

"Se somente eu pudesse ser feliz de tempos em tempos, eu poderia suportar todo o resto." Virginie, 22 anos, esgotados de uma luta obstinada em se sentir bem.
"Eu li um livro que aos hiperinteligentes falta a aptidão à felicidade. É certamente verdadeiro, mas eu tenho vontade de responder que não se pode ser bom em todo lugar. Se se refletir bem, eu tenho toda a vida para ser infeliz... em que é bom ser precoce (2)?"
(2) Tonino Benaquista, Tout à l'Ego, Gallimard, 1999.

É o momento de empregar 'inteligentemente' todos nossos tesouros de guerra: do menor átomo de inteligência à menor partícula de sensibilidade, e compreender com sua cabeça e seu coração, como a canção Mowgly no 'O livro da selva': "É preciso pouco para ser feliz, verdadeiramente pouco para ser feliz, é preciso se satifazer do necessário..."
Então, aqueles cujo corpo e a alma são tão sensíveis ao ambiente podem afinar cada uma das suas cordas, com sagacidade, perspicácia, eficácia, para guardar o coração de alvo como objetivo constante: o centro de si mesmo. 

Breve de consulta
Eu encontro Alain, adulto sobredotado de 46 anos. Nós falamos da felicidade, das felicidades. Eu evoco esta ideia que, para ser feliz, é importante ter recebido um pouco mais de satisfações que de provas. Numa espécie de balanço da vida. Eu me interrompo, pensativo: "Você esqueceu uma noção essencial, como é possível ser feliz sem dar. Para mim, dar faz parte das minhas maiores felicidades. Justo receber, mas não é suficiente! Dar é mais transcendente mesmo se, é claro, receber é importante. Mas é insuficiente!"

>> Dar por dar...

"O que conta na minha vida, é fazer as coisas para os outros, não por mim." Enzo tem 20 anos. Ele está triste pois tem dificuldade a admitir que essa necessidade altruísta seja tão raramente partilhada."
Para um sobredotado, dar se declina a tudo. Seu prazer é a certeza que ele pode fazer bem aos outros, que ele pode ajudar os outros a ir melhor. Encontra-se tal característica em todos os estágios da vida e em todas as circunstâncias: dar seus bombons, seus brinquedos na idade da infância àqueles mais desmunidos, dar seu tempo, sua escuta, na adolescência, para gerar os problemas de relações ou tornar-se espontaneamente o intermediário entre aqueles que não ousam se aproximar, dar de si para abraçar grande sonhos da humanidade ou ambiciosos projetos de combates contra a injustiça, dar a seu cônjuge num movimento natural para compreender e ajudar o outro, a suas crianças para as quais gostaria de tudo dar... Dar por dar. Dar como maneira de amar. Dar como sentido da vida sobre a terra.

A reviravolta da tendência natural
Encontra-se sobredotados, pequenos e grandes, particularmente egoístas. Egocêntricos. Jamais, no máximo jamais, eles desprenderão qualquer coisa deles mesmos ou partilharão o que eles têm. Eles têm personalidades que os tornam pouco simpáticos. Sua falta de generosidade conduz a rejeitá-los. Entretanto, se eles se tornaram tão personais, é contra sua vontade e contra sua natureza. Crianças, eles se entricheiraram por medo e não quiseram partilhar, por desconfiança, de intrusões afetivas que eles não teriam sabido administrar. Ou ainda, eles viveram uma sensação onipresente de invasão de seu terrritório. Precisar-se-ia exprimir o que para eles era indizível, explicar o que eles mesmos não compreendiam, precisar-se-ia mostrar os sentimentos de uma certa maneira, neste caso, onde a emoção era para eles devoradora... Eles foram assim julgados, incompreendidos, psicologicamente maltratados, involuntariamente, obviamente, mas suficientemente para tornar essas personalidades fechadas e azedas para quem dar-se constitui uma ameaça.

Reencontrar as raízes de si...
Se, no seu percurso, esses 'frustrados do dom' encontram alguém que os assegura suficientemente, que lhes oferece acesso à intimidade deles mesmos, então eles poderão reaprender este valor de dar e sair de sua prisão interior. Um novo sopro de vida e de liberdade os levará a momentos de vida plenos de promessas.

De 7 a 77 anos...

O que se sabe do futuro do adulto sobredotado?
Um pouco de tudo e seu contrário numa divertida mistura de gêneros: os que cresceram em pleno conhecimento de suas particularidades e que foram acompanhados, os que foram diagnosticados quando crianças e que foram maltratados, os que descobriram o diagnóstico através do diagnóstico de seus filhos, os que fizeram uma tentativa pessoal, mas também os que conseguiram êxito profissionalmente, socialmente, afetivamente, e os que têm o sentimento de ter passado ao lado de sua vida...
Em exemplo célebre, os cupins. Nada a ver com o animal! É o nome dado ao mais conhecido dos estudos americanos, conduzidos pelo psicólogo Lewis Terman, que estudou uma população de várias centenas de sobredotados da infância à grande idade. A maior parte das crianças incluídas no estudo de Terman eram bons alunos selecionados pelos professores, o que induziu então a um real desvio de recrutamento: as crianças já tinham encontrado boas estratégias de adaptação... E, efetivamente, quando se os encontra na idade adulta, eles têm situações profissionais de um nível elevado e eles construíram biografias de famílias equilibradas. Voltamos ingenuamente ao adágio popular: melhor vale ser rico, inteligente e em boa saúde que pobre, doente e idiota.. Um pouco simplista tudo isso!
Na França, uma observação concluída... a mesma coisa, mesmo se se trata de uma amostra microscópica (3). Trataria de avaliar a 'satisfação de vida' dos aposentados sobredotados. E eles estão bem mais satisfeitos que a média!
Um outro estudo francês sobre uma população mais importante confirma a correlação entre as funções cognitivas elevadas e um alto nível de satisfação de vida com um envelhecimento realizado. Ouf, diante disso já se ganhou, o sobredotado seria um 'velho' feliz.
Eu digo bem 'seria', pois não se pode colocar os resultados senão em perspectiva do percurso da vida. Mas se pode também pensar que mais se avança em idade, mais se desenvolve a capacidade de 'fazer a parte das coisas' e de recolocar seu lugar nos valores essenciais. Leva-se em conta finalmente que são estes que são os únicos válidos e que todas as pequenas contrariedades não merecem de nós desperdiçar a vida. Não é isto que se chama sabedoria?

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Capítulo 10 - Como fazer para ir bem?

Capítulo 10 - Como fazer para ir bem?

A ideia deste capítulo é de mostrar-vos como transformar, utilizar um modo de funcionamento geralmente doloroso, em força de vida, em energia liberada.
Descrever um funcionamento de uma personalidade não tem sentido senão que se possa refletir sobre novas pistas, considerar respostas à única questão válida: como fazer para se sentir bem? Saber, de acordo, mas por que fazer se não é para melhorar sua vida? Por vezes, para se lhe dar um sentido. Saber onde se vai, em plena posse de si.
Eu ficarei constrangida nestas linhas em distinguir de maneira arbitrária as principais facetas que singularizam o modo de funcionamento de um adulto sobredotado. É arbitrário, compreende-se bem. Tudo está ligado: a inteligência não caminha jamais sem a sensibilidade. A criatividade é produto direto da alquimia entre inteligência, lucidez e receptividade emocional. A empatia não adquire sentido senão se inscrita na hiperafetividade e na consciência do outro que a inteligência transforma em clarividência. 

domingo, 6 de novembro de 2016

A grande artimanha do sobredotado: as "montanhas russas"

Lembrem-se dessas manobras. Nessas subidas, vocês se sentem carregados, transportados, a ascensão é excitante, mas vocês sabem que o ápice se aproxima e o medo vos alcança. E de repente, o tombo vertiginoso, que parece vos aspirar num abismo sem fim. Tudo se precipita, emocionalmente e fisicamente. Vocês têm a sensação de uma morte iminente, tanto as percepções são violentas nos seus corpos, depois, vem o looping e, de cabeça para baixo, vocês perdem o senso das coisas, a ordem do mundo. Vocês não sabem mais onde vocês estão, vocês não sabem mais se vocês sairão vivos desta aventura. Mas então, uma nova subida inicia, vocês retomam confiança, tudo retorna possível...
A vida do sobredotado parece um pouco com isso: feita de esperanças infinitas, de decepções fulgurantes, de alegrias intensas, de poços de sofrimentos, de encadeamentos inebriantes, de sensações e de emoções contraditórias. Uma vida raramente linear. Onde se perde também rapidamente seu objetivo pois nele se encontra um novo, onde as emoções intensas estão sempre presentes, boas ou más, onde se tem sempre medo, tanto na subida quanto na descida.
Uma manobra onde se volta tranquilamente, com o único objetivo de apanhar o tufo, o pompom, seria tão mais repousante. À imagem da vida: para alguns, "rolam", dizem eles, quando se lhes pergunta as novidades de sua vida, "vai indo", respondem eles quando se fala de sua profissão. O 'pompom', é o êxito que se gostaria tanto obter. Com a ilusão de uma reviravolta de vida gratuita? Talvez seja efetivamente isto que faça avançar o mundo...

>> O dia onde a magia da artimanha interrompe-se, onde as luzes extinguem-se.
Alice tem 55 anos. Sua vida expõe-se nos jornais. Ela é conhecida e reconhecida. Mas seu par vacila. Durante vinte e cinco anos, ela e seu marido brigam com a vida e nas suas relações, eles construíram tudo juntos e ao mesmo tempo foram-se destruindo. Muito de relações de força, muito de paixão e então muito de ódio. Muito amor, é claro. A ruptura decidiu-se, a separação se fez. Ele, acaso dos encontros, apóia-se sobre uma nova ligação "que o retém". Ela tenta aventuras amorosas mas não chega a se "fixar". Seu turbilhão de vida continua: viagens, projetos, realizações profissionais, encontros incessantes e festivos, etc. Mas a ausência de seu marido torna-se, nos fios dos meses, insuportável. Com ele, a vida era difícil, sem ele, a vida é impossível. O que ela exprime sobretudo, é este sentimento de ter perdido a conexão com suas emoções. Ela sente com sua cabeça, diz ela, mas mais com suas entranhas. Por exemplo, se sua pequena filha salta nos seus braços, ela fica louca de alegria, mas não sente o prazer na profundidade dela mesma. Reação emocional, zero. Tudo lhe parece semelhante. Como se mais nada tivesse verdadeiramente importância, interesse. Um pouco como uma vida que se tornasse de repente em negro e branco. Então, Alice luta para "fazer semblante", de estar contente, de entusiasmar-se, de ter prazer. Mesmo com seu amante do momento ao qual ela está muito ligada e com o qual ela passa verdadeiros momento de prazer, ela confessa: "Por vezes eu me forço. É verdade, eu estou bem, ele é formidável. Nós rimos muito, nós falamos de tudo. Mas, na verdade, eu me entendio. É uma sensação insuportável, eu não posso mais." Esgotada, no fim dos recursos para continuar o que ela descreve como uma "comédia" onde ela se perde, ela tentará o suicídio. Mas quando voltamos a conversar, ela repete que ela não queria morrer. Justo, ela não podia mais viver assim, uma vida insípida onde não se vibra mais. "À que é bom?", insiste ela. Não, isto não é um simples quadro de depressão pela qual ela é tratada depois de muitos meses, sem efeitos notáveis. Não, pode-se levar um terapia habitual com uma paciente como Alice. Ela vos espiona, capta a menor de vossas reações. Ela está dentro da noção que você não a compreende verdadeiramente, que você faz tudo simplesmente profissionalmente e não essa pessoa sobrehumana que vai poder ajudá-la... pois sua lucidez extrema demanda uma vigilância terapêutica em todos os instantes. Como modificar a visão do mundo de Alice tanto sua sagacidade é evidente, como ajudá-la a reencontrar um equilíbrio de vida ao passo que é nos contrastes que ela se sente viva, como lhe permitir se reconectar a suas emoções se é por elas que o sofrimento chegou? O que é difícil, muito difícil, para o terapeuta, é não relaxar no caminho, não dizer repentinamente uma banalidade ou tentar fazer crer que o impossível pode se tornar considerável. E, para Alice, o impossível é 'recuperar' seu marido pois ele está no centro de tudo o que ela construiu. Para ela e para sua família. E não se trata nem de inveja, nem de orgulho, nem de amor-próprio. Talvez mesmo não de amor em resumo. Mas, como frequente no adulto sobredotado, num sentido profundo de engajamento que torna o liame indestrutível, eterno, de um apego infinito que torna a ruptura impensável. No verdadeiro sentido do termo. Não é que ela não queria avançar na sua vida diferentemente, mas ela não pode. Ela não é feita como esta Alice. "É justamente não ser possível", insiste ela. Ademais, seu funcionamento de sobredotada não lhe deixa nenhuma trégua: nem na sua análise permanente do ambiente, dos outros, das situações nem na sua vivência emocional. Não mais viver com suas emoções, é não mais viver de todo.

A aposta, e não os insignificantes: fazer Alice tomar consciência dos meandros de sua personalidade e fazê-la descobrir todos os recursos escondidos em si. E ajudá-la a servir-se como uma força de vida e não mais como um bumerangue autodestruidor.
E, então, apesar de bela, rica e inteligente, Alice se lastima! Mas quem pode compreender ou somente entender uma inverossimilhança parecida?

"No primeiro curso de filosofia, nosso professor, à guisa de sacrosanto, fez-nos preencher o questionário de Proust. Na questão 'Qual dom da natureza teria você gostado de receber?', eu respondi: 'a idiotice'. Ele me fez notar que era muito pretensioso, como resposta. Mas este imbecil teria podido primeiramente esconder aquele sofrimento que havia por trás, que eu não sabia exprimir de outra forma que por uma trirada original ou uma provocação. Eu dizia a quem quisesse entender que não era por nada que se falava de imbecis felizes. Que seria necessário ser um pouco idiota para conseguir ser feliz." Testemunho de um adulto sobredotado.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A inteligência como recurso

"O que há é que é preciso aprisionar este sobremais de inteligência, percebê-la e fazer valer com conhecimento de causa, sobretudo, não mais achatar os outros... nem os subestimar não mais, aliás. Eu chamo isso de inteligência desabrochada e benevolente."

Tal é efetivamente a grande proposta. Como aprisionar este 'muito' de inteligência ou mais exatamente esta 'estranha inteligência', aquela que faz ver a vida de maneira tão diferente, tão amplificada, tão onipresente?

>> A inteligência como vetor da estima de si
A inteligência permite ser autocrítico, o que não comporta senão aspectos negativos. Quando se é inteligente, tem-se consciência dos momentos onde se é... imbecil! Reage-se de forma inadaptada. Não pertinente. E então aqui pode-se rir, zombar gentilmente de si e sobretudo corrigir. É um trunfo maior: a consciência de si e de seus atos permitem uma conscientização do que se é, do que se faz, do que se diz.
Enquanto outros funcionam sem nenhum recuo, o sobredotado pode se colocar em perspectiva. Esta profundidade de campo oferece inúmeros recursos. É preciso aproveitá-lo plenamente. Utilizar esta capacidade para autocrítica e para colocação em perspectiva para avançar. Crescer. Abrir-se. E não mais sofrer por causa dessa introspecção imediatamente negativa. Seja lúcido: é a dúvida que você prova sempre sobre você mesmo que deforma vossa percepção e dá automaticamente esta coloração negativa à imagem que você tem de você. Não é a sua realidade. Quando se pensa em si, pode-se colocar a opção positiva!
Desbravar esses espinhos que escondem uma floresta imensa. Onde podem se aventurar sem medo, e, ao contrário, fazer emergir toda a beleza para vosso maior bem e o dos outros. Não deixar essas ideias negativas ocultarem todas as riquezas escondidas. Elas aí estão. Elas vos pertencem. Aproveitem-nas.
A inteligência, esta forma de inteligência, permite verdadeiramente pegar sua vida na mão, em plena consciência. Vossa capacidade de autocrítica pode vos permitir considerar, também, esta inteligência como uma qualidade que, corretamente utilizada e bem canalizada, pode alimentar uma imagem positiva de si. E estando confiante do que se é, do que se pode realizar. 

>> A inteligência e a evasão pelo pensamento
O mais frequente é falar disso como um defeito. Critica-se, na infância e mesmo no adulto, evadir-se no pensamento. Pode-se compreender que este funcionamento pode ser irritante ou perturbador em certas situações. Mas é também uma maneira muito útil de utilizar seus recursos de pensamento. Se você se acha num momento difícil, que se sinta mal, sofra fisicamente, moralmente, você pode se desembaraçar dessa situação pelo pensamento. Fazer-se carregado e recarregado por ele. O imaginário rico alimentado pela memória, a exarcebação de todos os sentidos e as capacidades de associação podem fabricar um sonho suficientamente forte para vos extrair momentaneamente e vos alimentar. Trata-se de um ato voluntário, de utilização do pensamento como um utensílio a serviço de si. É uma técnica eficiente para não restar devorado no concreto, no pesado do insuportável. O corpo resta lá mas o espírito se destaca e todo nosso ser, físico e psíquico, participa da viagem. Um verdadeiro prazer. Uma verdadeira regalia para todos os sentidos e em todos os sentidos. Um pleno de energia. 
Um só condição para conseguir essa viagem e dela tirar todos os benefícios: guardar o controle. É uma viagem organizada.

>> A inteligência e as capacidades em memória: recordar-se das belas coisas...
A memória impressionante do sobredotado, em particular por tudo o que concerne a recordações pessoais, pode tornar-se um reservatório inesgotável de bem estar.
Esta memória é dita episódica pois ela registra os episódios de nossa vida. No sobredotado, ela é capaz de estocar com nitidez e precisão um número considerável de detalhes. Entre eles encontram-se uma ou mais imagens-recurso. Eu me atenho muito a esta ideia e eu me sirvo dela muito frequentemente em psicoterapia. Procure na sua memória, deixe ressurgir lembranças fugidias, as que são agradáveis, é claro. E você verá, você irá encontrar imagens-recurso. Aquela única evocação mental vos oferece instantaneamente uma sensação de bem-estar. Você a ativa no vosso espírito e tudo se detém em você, você se sentirá bem. 
O princípio é de reativar na memória, inclusive e talvez sobretudo na memória sensorial, todas as impressões vividas no momento onde você está face ou neste cenário que agora você rememora: os sons, as cores, os odores, a temperatura, as texturas, os jogos de sombra e de luz, os minúsculos detalhes que seu cérebro percebeu e registrou. 

Encontrar em si a imagem-recurso que permitirá ficar apaziguado nos momentos difíceis. 

Léo, adulto sobredotado de 35 anos, entusiasma-se quando, em sessão, eu evoco o princípio da imagem-recurso: "Mas eu, eu sempre faço isso! Quando eu era pequeno, nós íamos todos os verões à nossa casa de campo. Eu fazia geralmente bicicleta e eu passava ao lado de um campo muito bucólico semeado de flores selvagens amarelas e brancas. Este campo me fascinava. Para mim, era a imagem da felicidade. Então, quando eu tinha um pesadelo, no escuro de meu quarto, eu fazia ressurgir esta imagem na minha cabeça e logo em seguida eu me sentia melhor. Eu adorava em particular esta brisa leve que fazia movimentar muito docemente as ervas altas e as flores, isto me dava a impressão que se expulsava todas as ideias tristes. Mesmo hoje, chega a ideia de utilizar esta recordação quando eu estou estressado. Eu faço reaparecer esta imagem, como se eu a tivesse sob os olhos, e eu experimento instantaneamente uma sensação de calma. Isto me renova as forças. É quase mágico!"

Eis aqui bem a prova de uma utilização 'terapêutica' da memória. É provável que numerosos sobredotados tenham sabido instintivamente, como Léo, utilizar os benefícios das imagens-recurso. Mais a memória é poderosa, o que é o caso para os sobredotados, mais o sonho é carregado de sensações associadas que vão reforçar a potência evocadora da imagem-recurso e seus benefícios.

Como utilizar a imagem-recurso? 

Pode-se comparar o princípio da utilização da imagem-recurso a um dispositivo que nos projetaria sobre nossa tela mental desde que nós tivéssemos necessidade de fazer desviar nossos pensamentos. No mais, sabe-se hoje que, no nosso cérebro, os circuitos que transportam as emoções pelas zonas positivas ou negativas estão muito próximos e que se pode passar rapidamente de um a outro. Do riso às lágrimas. Esses conhecimentos novos sobre a neurofisiologia das emoções explicam a ação mobilizadora das imagens-recurso que permitem transportar nosso espírito através de extensões calorosas e agradáveis: o estado emocional geral aí se encontra  espontaneamente transformado.

As capacidades da memória podem também desenvolver competências inéditas

UMA MEMÓRIA VISUAL INABITUAL
Nós estamos na passagem do balanço. Eu coloco uma questão de cálculo mental a Thomas, oito anos, Seu olhar se imobiliza, como se ele olhasse atrás de minhas costas (eu estou diante dele). Para fazer seus cálculos, Thomas visualizava os objetos que ele via atrás de mim e os fixava na sua memória a curto prazo. Depois, ele manipulava mentalmente esses objetos para obter a solução, justa, do cálculo.

A MEMÓRIA A LONGO PRAZO SOBREUTILIZADA
Nas experimentações científicas recentes, apareceu que os jovens adultos utilizavam a memória de longo prazo para resolver muito rapidamente os problemas complexos de cálculo mental. No lugar de ativar as operações necessárias, eles iam procurara na memória a longo prazo os resultados de cálculos que eles tinham feito precedentemente e cujos dados estavam próximos daqueles desse novo problema. Eles visualizavam as respostas sobre sua tela mental.
Surpreendentes procedimentos, muito diferentes dos correntemente empregados, e que traduzem bem as competências inéditas da memória visual dos sobredotados. Competências confirmadas pelas neurociências. 

OS TRUNFOS DESSA FORMA PODEROSA DE MEMÓRIA
O interesse? Uma memória fotográfica que pode estocar, intactas, cenas inteiras (reais ou abstratas) com todos os detalhes. Um indício, e a imagem completa revém em memória e pode ser novamente utilizada. Esta memória, mesmo nos adultos que pensam ter sufocado suas capacidades intelectuais, está sempre presente. 

COMO UTILIZAR ESTA SUPERMEMÓRIA?
Para reativá-la, abra os olhos, olhe, feche os olhos, descreva o que você vê na sua cabeça. Então? Parecido em todo mundo, pensa você? Teste e compare. Você se dará conta que você registrou mil e um detalhes passados despercebidos no seu teste! O exercício é fácil e muito reconfortante pois você pode aumentar a dificuldade e reencontrar uma potência de memória que vos proporcionará uma grande jubilação e que, eu tenho certeza, você saberá utilizar eficazmente na sua vida!

>> Jogar com sua inteligência como com um jogo de "pequeno químico"
A inteligência disseca e carrega uma compreensão total da menor das componentes do que se observa, do que se pensa. Pode-se então jogar em examinar até a menor unidade, mesmo se na ponta de um momento inventa-se hipóteses novas. Pode-se provocar um problema difícil e em seguida juntar todas as peças do puzzle: como refazer uma nova imagem? Quando se tem todos os fragmentos, pode-se 'recompor'. Mesma coisa com uma ideia, um pensamento: desenvolve-se até o infinito, exagera-se para descrevê-la num máximo de linhas e depois se reacelera, e se resume. Na realidade, instaura-se uma sucessão de movimentos: num primeiro tempo, diminui-se o pensamento, o tempo. Alonga-se cada ideia, cada proposição, ao máximo. Depois se lhe dá um ritmo resistido, uma rapidez de tratamento das informações coligadas. O cérebro se remete em hiperativação e procurar acelerar-se o mais possível. Depois, retém-se e se reescreve a história: guardando o que é essencial, jogando o acessório, o supérfluo, o inútil, valorizando o que aparece como prioritário, positivo, construtivo, tranquilizador. "Joga-se" com o cérebro e nele fazemos exercícios de estilo utilizando todas as competências: a rapidez, a precisão, a análise.
* Um jogo de pensamento que permite aprofundar ideias e explorar as mais ínfimas componentes. 
* Uma fonte de inspiração poderosa para inventar novas teorias, novos sistemas de pensamento.
* Manipular seus pensamentos para se aventurar ao centro de si mesmo.

Com Stevan em terapia, nós empreendemos um projeto ambicioso: determinar a menor parcela de identidade que constitui o núcleo de cada personalidade. Stevan, entre duas sessões, inunda-se de teorias de todos os grandes pensadores de nosso tempo que refletiram sobre esta matéria psicofilosófica. Ele leu várias obras por semana. Certamente, Stevan fez isso pois é para ele uma primeira etapa para avançar na sua própria vida. Ele quis primeiro compreender, a ele e aos outros, para empreender seu projeto de vida. Trata-se para Stevan de uma passo pessoal incontornável.
Eu o acompanho assim na sua reflexão estimulada que as sessões terapêuticas tornam-se os catalizadores. Estamos na construção de um sistema que constitui a essência da avaliação de Stevan. Ele desenha seus modelos: uma pequena porção de "terra" rodeada de estacas para determinar os contornos. Cada estaca simboliza uma parte de si. A implantação dessas estacas podem assim evoluir ao longo da vida. O sistema de Stevan ilustra a concepção de identidade: ser sempre parecido, a porção original que não pode ser reduzida, tudo estando diferente, nosso território identitário alarga-se, modifica-se segundo as experiências, as evoluções pessoais. Stevan quer fazer uma teoria que possa servir para melhor compreender o homem e ajudar aqueles que estão à deriva. Por que não? O que é certo é que esta ilustração terapêutica representa precisamente a maneira que a inteligência pode ser utilizada para construir e se reconstruir. 

>> A inteligência e arborescência: ideias por milhares...
Sim, nós temos falado muito disso, a arborescência de pensamento pode desordenar as ideias. Sobretudo quando se deve organizar e estruturar o pensamento. Mas, em outros contextos, aprender a explorar este pensamento arborescente pode se tornar a fonte de um grande número de ideias. 

O 'Script-Mind' (1): anotar as ideias aos poucos
((1) técnica terapêutica que eu tenho pessoalmente introduzido e assim denominado.)
A técnica: parte-se de uma ideia, pouco importa qual. Uma nova ideia surgiu, anote-se-a. E anota-se tudo, estritamente tudo, mesmo o que parece sem interesse ou insignificante. Toma-se várias folhas brancas sobre as quais serão escritas as ideias surgidas da arborescência. Uma folha por tema, já que a ordem não é lógica e seqüencial, deve-se inscrever as ideias na medida que aparecem e categorizá-las agrupando-as por folha. Para-se quando quiser. E ao final, reencontra-se um certo número de folhas sobre as quais se ficará surpreso de reler o que foi anotado.
Habitualmente, a ativação da arborescência é tão rápida que numerosas ideias, associações de ideais, pensamentos diversos se apagam tão logo ativadas. Anotá-las permite tomar consciência e retornar àquelas que nos interessam. Isto permite também tomar conhecimento do que se tem "dentro da cabeça". É uma nova ferramenta ao serviço do conhecimento de si.
Esta técnica permite canalizar, mas também não esquecer. Os sobredotados têm medo de esquecer. Eles têm medo de perder suas ideias. E eles a perdem frequentemente aliás! Numa conversação, eles têm necessidade de pegar rapidamente a conversa sob o risco de ver sua ideia lhe escapar, o que o contraria muito. Mas o pensamento vai tão rápido que em alguns mil segundos, ele já passou para um outra coisa. Esse medo do esquecimento vai conduzir alguns a se enlaçar em seu pensamento, a ficar voluntariamente atentos ao que se desenrola na sua cabeça, sob o risco de se castrar do ambiente. 

"Quando eu era pequeno, eu não compreendia tudo e eu procurava tudo compreender, e depois eu me dei conta que a coisa mais horrível era o esquecimento. É preciso sempre tudo reconstruir. Nada é jamais conquistado." Étienne, dezoito anos. Então Étienne, hoje, permanece fixada sobre si mesma para reter todas suas ideias e toda sua compreensão do mundo. Ela está isolada socialmente.

* A técnica do Script-Mind é uma alternativa ao esquecimento. Desembaraçando seu pensamento, ela permite adquirir novos espaços interiores onde poderemos ser acolhidos de novos pensamentos, de novos prazeres de pensamento, de novas experiências de pensamento.

>> A inteligência em grande ângulo: um trunfo multiuso!
Na vida pessoal ou no universo profissional, esta inteligência singular, capaz de pensar um problema ativando simultaneamente representações múltiplas, alarga consideravelmente a compreensão e a análise. Cada problema pode ser estudado sob vários ângulos. Nenhum será negligenciado. Tudo será explorado. 
E, ao final, uma avaliação rara e exaustiva, um poder de reflexão fora do comum, uma visão esclarecida e potencial. Um imenso trunfo a utilizar sem moderação!

Viagem ao coração do pensamento
Como um passeio à vontade do vento, o nariz no ar. Um passeio aleatório no fio desses caminhos de pensamento. Como quando se lê um dicionário e que se salta de uma palavra a outra, de uma ideia a outra, de uma etimologia a uma outra... então as conexões se estabilizam. Dos laços que a priori não teriam podido existir. Viagem no pensamento onde as barreiras do tempo, do espaço se apagam mas também aquelas da lógica, do racional. Nem se restringem nem se impõem freios. O prazer do passeio, é tudo. Esquecer o medo e a dúvida. A autocrítica também, instantânea: é nulo! Certamente não. E mesmo se o fosse, por que não?

terça-feira, 17 de maio de 2016

A hipersensibilidade como talento

>> A emoção no coração da inteligência
A emoção é uma componente essencial do pensamento... inteligente! A capacidade de reparar precisamente suas emoções e aquelas dos outros é um talento.
Os sobredotados são particularmente dotados na matéria: eles captam toda sorte de emoções, mesmo a mais tênua. Eles sabem antecipá-la. Eles podem tentar canalizá-la. Controlá-la. E é aí que estes captadores emocionais podem se tornar aliados. Quando se sente uma emoção que não é ainda expressa, quando se adivinha a aposta emocional de uma situação, pode-se utilizar essas percepções para atravessar um momento difícil ou para ajudar os outros a fazê-lo.
Louis me explica que os filmes de horror jamais o deixaram com medo. Por quê? Ele analisou os mecanismos fisiológicos do medo. Quando ele olha esse gênero de filmes, ele compreende que para antecipar um medo previsível, seria suficiente acelerar seu ritmo cardíaco. Ele sincroniza antes da sobrevinda da cena assustadora colocando seu corpo num estado que o medo repentinamente teria sido fisicamente desencadeado (pois bem certo ele integrou e decompôs os artifícios do cenário). Seu corpo e seu espírito estão prontos a viver a cena tendo neutralizado a emoção violenta...
Sentir finamente e com todos os sentidos as emoções permite também melhor compreender-se. Todas as emoções estão associadas a manifestações fisiológicas. As emoções emitem sinais anunciadores pelos quais se saberá ou não perceber e decodificar. Dotado deste sexto sentido, o sobredotado sabe, antes que o evento se desencadeie, a carga emocional que ele contém.
* Ele pode se servir para se ajustar (como no exemplo de Louis e do filme de horror), vivendo assim melhor a situação sem se fazer transbordar.
* Ele pode antecipar e prevenir alguns perigos, para ele ou para seu entorno.
* Ele pode permitir evitar o desencadeamento de um conflito, como quando se percebe que um mal-estar existe entre duas pessoas e que a discussão está próxima de explodir. Pode-se desviar a atenção, dizer algumas coisas que tranquilizarão os protagonistas, que servirão de impedimento do conflito todo próximo. As crianças fazem-no frequentemente quando elas sentem a tensão subir entre seus pais...

>> Todos os sentidos a serviço do prazer de viver

A hiperestesia redobra as possibilidades
A colocação em ação de todos os sentidos simultaneamente e sua notável capacidade de discriminação, dão ao sobredotado uma presença no mundo fora do comum. A hiperestesia amplifica todas as percepções. Ela permite criar o bonito lá onde os outros não verão senão o banal. Ela ilumina o mundo pela densidade emocional que todos os sentidos proporcionam. A hiperestesia pode ser utilizada para capturar o ambiente e o magnificar. Utilizar todos os sentidos para abraçar o mundo.
Tudo sentir pode ser um imenso prazer e a fonte de momentos mágicos de vida. Aproveitá-los para se reabastecer desde que você o deseje. Esta força está em você. Utilize-a plenamente para sentir-se vivo.

A poética e a estética
O senso do belo, a sensibilidade ao real, ao que toca, é a essência mesmo da estética. O que não é uma questão de gosto, mas de sensibilidade.  A estética permite se harmonizar ao mundo naquilo que ele tem da mais íntimo. A estética é uma disciplina filosófica que se refere à percepção da forma (no sentido da Gestalt), quer dizer da globalidade do que é percebido. o senso estético é esta capacidade de perceber pelo intermédio de todos os sentidos e com uma sensibilidade perspicaz, a quintessência das coisas. A estética percebe por sua vez o escondido e o visível, o interior e o exterior e abraça o mundo com uma profundidade chocante. A estética é uma outra maneira, sensível e autêntica, de compreender a vida.
A poética não é somente a arte de compor os poemas. O caráter poético fala da capacidade de esquecer a si mesmo para exaltar a beleza da natureza ou do outro. A poética cria um laço íntimo com o ambiente. A poética, é o poder de se imergir inteiramente ao ambiente para dele absorver a essência ou a identidade. O poético é uma comunhão com o mundo pela capilaridade sensitiva.
Poética e estética estão estreitamente ligadas. Poética e estética emanam da hipersensibilidade e exaltam as possibilidades. Frequentemente fugidia, sua plena expressão torna vivo e presente o mundo que nos rodeia e nos permite ressoar com eles em harmonia perfeita. É uma porta formidável através da beleza da vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

A criatividade como perspectiva

A criatividade é geralmente confundida unicamente como expressão artística. A criatividade recobre um mecanismo muito mais largo.
A criatividade é a capacidade de encontrar ideias novas, de compor dados variados cuja alquimia produzirá uma verdadeira novidade, é aceitar os riscos para se alongar em caminhos balizados, é descobrir os domínios, os universos, as pessoas, os lugares desconhecidos sem medo e com curiosidade, com a convicção que se encontrará, em si, os meios de adaptação a esta situação desconhecida e que se poderá aí adquirir o prazer.

>> Criatividade e percepção exarcebada do mundo: uma associação vitoriosa.
A criatividade nasce dessa capacidade própria do sobredotado de "não selecionar". O que os científicos chamam de defeito de inibição latente. O que torna-se a dizer que o cérebro capta tudo, inclusive as coisas mais banais. O que dá uma consciência mais fina do ambiente e amplifica as percepções. O cérebro do sobredotado não rejeita de imediato certos elementos, o que se faz habitualmente por condicionamento. Quer dizer que se aprendeu a selecionar o que era importante e o que o era menos. A hiperpercepção do sobredotado deixa grandes portas abertas. Eis que, deixar-se invadir com confiança e prazer por todas essa pequenas coisas que, juntas, podem tornar as ideias muito originais ou obras únicas. Uma obra pode recobrir mil visões. Permanecer ligado, sem medo, e as ideias jorrarão. É muito júbilo e pode ser uma via apaixonante de realização. Ainda uma vez, isto supõe ter bem compreendido que você não atrai nenhum risco de sentir o que você sente: uma percepção afirmada, extensa e sem limites. Tudo, absolutamente tudo, vai entrar no seu cérebro e poderá tecer laços insuspeitos que farão transbordar seu potencial criativo. 

Então, não se esqueça jamais: maiores são as portas da percepção, mais vossa criatividade é importante. Aproveite-a!

>> A criatividade deixa grandes aberturas nas portas dos possíveis.
O defeito de inibição latente, aquele que faz "entrar" no pensamento todas as informações sem triagem nem hierarquização prévia, tornam-se uma qualidade para a criatividade. Nenhuma possibilidade se fecha. Associando-se espontaneamente sobre a menor coisa que toca o espírito, os sentidos, o pensamento, produz continuamente cadeias de ideias novas. Nada saberá impedi-lo. É lá, e somente lá, que se precisará por vezes triar: olhar e reparar entre todas essas ideias aquelas que podem ter um sentido que nos reorienta ou nos conduz para um novo projeto. Através de uma nova ideia que a seu turno relançará a máquina sobre uma nova via, em novas associações...
Tomemos uma imagem: se eu colocar meu cérebro em modo open, tudo entra e meu cérebro vai moer o menor grão. Meu cérebro torna-se uma "caixa de ideias". mas eu posso também escolher o modo closed, e, como se eu fechasse um programa informatizado, eu não guardo aberto senão um só fichário. Eu posso também escolher colocar-me em modo vigília.

Permanece-se livre e determina-se o momento, o contexto, a vontade de nossos desejos e dos constrangimentos da realidade, de abrir ou colocar em vigília nosso cérebro. Nós podemos decidir ter a escolha e não mais ser invadido em contínuo e à nossa revelia todas as informações do mundo.

>> O pensamento divergente: quando surgiu o Eureka!
A arborescência afasta o curso do pensamento e cria inumeráveis confluentes que acionam o pensamento na sua corrente. Toda uma rede de canais se desdobra, sem descontinuar. Claro, em inúmeras circunstâncias, esta forma de pensamento que se estende da ordem inicial, que perde o espírito em conjecturas, que obriga a avistar hipóteses sempre diferentes, desencadeia associações de ideias inimterruptas, pode se revelar fatal. Do aluno incapaz de estruturar uma redação de francês ao universitário perdido em face da redação de sua memória, do conferencista afogado em explicações confusas ao profissional perdido na conclusão de seu relatório.
Mas somente o pensamento divergente, aquele justamente que permite às ideias se desenvolverem e se reencontrarem de maneira fortuita, é propício à criatividade, ou mesmo à descoberta genial. Quando se reflete sobre um modo analítico e linear, quer dizer que se parte de uma hipótese ou de um dado de base e que se caminha por etapas lógicas, chega-se a um resultado, mas raramente a uma ideia nova! É o pensamento convergente na oposição do pensamento divergente. Aquele cujo processo conduz a inteligência a convergir através do objetivo fixado. Enquanto que a arborescência repentinamente chegou sobre um cruzamento inesperado de ideias que não seriam jamais encontradas numa estrutura seqüencial do pensamento.

O pensamento divergente é vossa reserva de criatividade. Pense nisso!

Pensamento divergente, criatividade e tempo: 
As vantagens dos precursores
Estar em avanço na sua análise e sua compreensão das coisas, situar-se antes da origem do caminho de pensamento habitual, antecipar as consequências de uma situação ou de uma ação, permite chegar antes dos outros ao ponto de chegada. com a criatividade que proporciona o pensamento divergente e a casca de sentimento de tudo-poder próprio do sobredotado, todos os ingredientes estão presentes para se tornar um precursor no seu domínio. Qualquer que o seja. Bem certo, ser um precursor exige energia para ir à contra-corrente, para impor sua visão das coisas. É preciso carisma, talento, personalidade e uma profunda convicção, e se poderá assumir as críticas. Quando tudo vai bem, a personalidade do sobredotado é rica de todos os trunfos. É uma dimensão que não é preciso jamais ocultar pois, se muito tem de ideias, pouco chega a impô-las e a assumi-las. Que se o diga!

>> A intuição, um poder comparável aos sistemas experts
Um sistema expert corresponde à análise de uma situação que leva em conta uma multiplicidade de dados e de experiências para tratar quase exaustivamente o problema dado. É também a tarefa de um expert num domínio preciso, ele é aquele que dispõe de competências e da experiência exigida para pronunciar uma opinião ou uma decisão. Para o sobredotado, a rapidez de associação de ideias, de compreensão, de análise, que provêm de várias fontes diferentes e que se associa de maneira fulgurante, além da consciência, produz uma intuição criativa do resultado. Esta intuição é resultante de um processo complexo. Não é um pensamento mágico surgido de nenhuma parte. Deve-se, pode-se, confiar nele. A resposta a um problema através desse processo corresponde aos mecanismos àqueles do sistema expert, em potência e criatividade a mais!
O obstáculo: provar e justificar a legitimidade. A resposta: "É evidente", ou ainda "eu estou certo que é assim que é preciso fazer", terá dificuldade a convencer. Como o disse o matemático Henri Poincaré: "É pela lógica que se prova e pela intuição que se descobre." O que torna-se a dizer que será preciso utilizar uma lógica, à escolha, para fazer validar sua ideia. Mesmo se a lógica para demonstrar não é aquela utilizada para criar! Um pequeno tour será suficiente para convencer pois de toda maneira você mesmo não sabe como nem porquê você compreendeu o que você sabe, então como explicá-lo!
Seja então criativo (!) mas desta vez para produzir uma explicação plausível e aceitável. Dá certo, verdadeiramente, e é profundamente satisfatório.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

A empatia como competência

A empatia, esta capacidade de perceber as emoções dos outros, é uma competência que, se ela pode por vezes fazer sofrer, abre-se a grandes e belas possibilidades.
Na relação, primeiramente. Captar o estado emocional do outro permite se harmonizar. Pode-se então avaliar a abertura de nosso discurso, o impacto de nossa presença, a incidência de nosso comportamento. E se ajustar. Quando não se desfruta da capacidade de empatia, fica-se geralmente "fora do assunto". Não se compreende uma situação senão a face exposta, e toda a sutileza nos escapa. Uma personalidade empática é aquela a que se ama confiar. Aquela que nos compreende por meia palavra. Aquela que vibra no mesmo tempo.

"Quando me falam, eu tenho a impressão de me sentir 'embaixo' do discurso. Eu devo sempre interrogar-me: - Será que eu respondo ao que se me diz ou ao que eu sinto? " Sandra traduz claramente o impacto da empatia na comunicação. Com suas armadilhas e seus trunfos.

>> Ser empático é ser simpático.
Quantos sobredotados são os confidentes designados? Quantos são aqueles a quem se virá a pedir ajuda, assistência, conselho para regrar mil e uma pequenas coisas da vida? É ao sobredotado que incumbirá mais frequentemente os 'pequenos arranjos entre amigos'. Pode-se contar com ele. Você pode então contar com esta competência emocional, vossa empatia natural, para ser amado e apreciado pelos outros.

>> Ser empático é uma capacidade de adaptação desejável.
A empatia é um trunfo para se ajustar em numerosas situações da vida e para antecipar a resposta melhor adaptada. No meio profissional, você compreenderá instintivamente que não é o dia para pedir um aumento pois você percebe a cólera ou a tristeza de seu chefe: numa negociação, você saberá adaptar seu discurso segundo a tonalidade emocional de seu interlocutor: numa relação comercial você saberá captar as variações emocionais de seu cliente potencial que vos permitirá reagir com argumentos convincentes... nos casais, é a empatia que é a melhor aliada para responder às expectativas, às necessidades do outro. Mesmo quando nada foi dito. É a empatia que cria esta cumplicidade muda, cimento de uma relação completa.

>> A empatia, a qualidade dos psicólogos?
Alice Miller, no seu livro notável O futuro do drama da criança dotada, diz que as crianças dotadas foram geralmente crianças terapeutas de seus pais. Eles chegam a decodificar e compreender do que os pais teriam necessidade para lhes satisfazer nos seus atos e seus comportamentos. Preenchendo as faltas afetivas de seus pais, a criança dotada torna-se expert para decodificar os sentimentos dos outros e isto lhe interessa pois isto sempre constitui para ela um "modo de ser". Então, adulta, ela se tornará... psicólogo! Alice Miller que o diz.
Poder compreender e aproximar o sentido do mundo e o funcionamento do homem com uma tal capacidade de empatia não é em efeito o perfil ideal para um psicólogo? Em torno de mim, eu conhecia muito dos psicólogos certamente sobredotados, mas que, mais frequentemente, não queriam o reconhecer. Como se o fato de ser sobredotado retirasse seu mérito profissional e pessoal.
Na minha prática clínica, eu tenho frequentemente encontrado adolescentes sobredotados que pensavam nessa profissão. Alguns já estão engajados. Eu prometi lhes propor uma colaboração no final de seus estudos. Eu tinha meus engajamentos! Eles serão psicólogos excepcionais... e talvez eu lhes pediria ser seu paciente! É verdade! Eu tenho uma real confiança nas suas capacidades de escuta, de empatia e sobretudo de síntese criativa para permitir-me acessar novas vias em mim que eu jamais explorei!

A sincronização das emoções: colocar-se no tempo.

A empatia oferece essa oportunidade rara: estar no tempo. O tempo emocional. Sentir com esta fineza e esta sensibilidade as emoções dos outros permite reagir e interagir, no bom momento. E a empatia não capta somente as emoções negativas, ela consegue também todas as nuances agradáveis do espectro emocional. Você perceberá uma leveza alegre no ar, em torno de você o prazer flutua, as emoções são felizes. Alimente suas reservas, capture estas emoções positivas. Elas vos serão úteis nos momentos mais difíceis. Elas alimentam vossas reservas, vossos recursos. É preciso sempre fazer provisões... lembre-se da cigarra e da formiga!
O tempo emocional é o que a maior parte das pessoas sentem partilhando um momento de música, ou melhor ainda, de dança. Sente-se vibrar no mesmo ritmo, levado pela emoção ambiente, pousado sobre as sensações do outro. Se é levado, transportado. São os momentos mágicos. A empatia, bem equilibrada, pode multiplicar esses momentos recursos.

Ainda quaisquer astúcias para transformar seu sonho de vida em vida de sonho (ou quase!)

>> Retirar do deslocamento competências novas.

O tédio leva a avançar, a criar, a encontrar ideias. Quando se compreende que este tédio é ligado ao tempo, que não é a vida que é tediosa, que a vida é aquela que construímos, o tédio torna-se um motor.
Você se entendia? Tanto melhor!
1. Vosso cérebro divaga, associa e cria.
2. Você poderá transformar esta vagabundagem de pensamento em realização.

O tédio permite imaginar e decidir uma vida na qual sente-se bem.

>> O senso do desafio: uma força poderosa para se propulsionar.

O sentido do desafio corresponde ao prazer que se sente quando se transpôs uma dificuldade. O sentido do desafio está ligado ao desejo de êxito. À necessidade íntima de ser um orgulho para si, do que se é. De sentir igualmente o orgulho no olhar dos outros. Não se trata de pretensão, de soberba. Mas de uma necessidade imperiosa de avançar, de transpor. O sentido do desafio é um motor de grande potência.
Quando o percurso do sobredotado lhe dá a chance de estar confrontado a esta jubilação do êxito. Pequeno ou grande. Que a vida ofereceu possibilidades de satisfação, de realização. Que se pôde guardar uma confiança em si suficiente e que se cresceu num entorno benevolente, apesar das inevitáveis falhas. Então, o sentido do desafio do sobredotado lhe empurra a realizar grandes coisas. Para ele, para os outros. Alimentado desta sede de humanidade, de defender grandes causas, ele avança. Como propulsionado por uma energia própria e irreprimível.
   O sentido do desafio permite transpor dificuldades ligadas a suas dificuldades de ser.
   O sentido do desafio dá uma energia excepcional para conseguir o que se empreendeu.
   O sentido do desafio: conseguir, para ir à extremidade de si mesmo.

domingo, 3 de abril de 2016

>> A energia do sobredotado: uma força sobrenatural?

A energia que é capaz de fazer prova a um sobredotado, é impressionante e esgotante para os outros. Todo mundo está fatigado? Ele continua. Os outros pensam o combate impossível, ele se confronta. A saída de uma situação parece fechada, ele encontra soluções. Sempre. Como a pequena criança, a pequena zebra parece inesgotável que ele continua a ser. E jamais cansada. Esta energia, é nela que se encontra, na sua constituição que também tem grandes reservas. Algumas vezes, ele está absorvido na sua tarefa, concentrado até o extremo, ele esquece tudo. O tempo passa, os imperativos ambientais, os outros, as pressões, inclusive as bases fisiológicas: comer, beber, dormir. Mergulhado em sua tarefa, na sua missão, nada pode detê-lo.
Sejamos prudentes: essa energia quase sobrenatural pode se transformar em seu contrário de maneira também espetacular. Se o adulto sobredotado está profundamente persuadido de que ele é nulo, incompetente, que isso que ele faz não serve para nada, que ele não conseguirá jamais, então é todo o contrário que se produz. Ele fica imóvel, congelado, diminuído, apático, 'morto'. Tão pesado e penível que nada pode fazê-lo mudar. Desconfiança: é a mesma energia, voltada contra si.
|| Inverta o movimento. Você repartirá a viva velocidade no sentido inverso. E você empregará uma energia insuspeita de você com a mesma força que aquela que você imobilizou. Lembre-se das montanhas russas: depois da descida abissal e angustiante, a subida acelerada e exaltante! Um looping, e partiu!

>> o idealismo: um sofrimento positivo!

Perseguir um ideal pode ser doloroso, os riscos de decepção são numerosos. Pode-se não ter medo deste sofrimento, mas, ao contrário, utilizá-lo. O idealismo é uma força em si. O idealismo obriga a manter os esforços necessários para chegar ao objetivo fixado. O idealismo cria uma meta que faz avançar.
| O idealismo em relação a si favoriza a realização pessoal.
| O idealismo permite sobrepassar e conseguir grandes projetos.

Quando se chega a relaxar esta luta esgotante...

O sobredotado luta em permanência, para sua sobrevivência psíquica, para canalizar suas emoções, para se adaptar aos outros e ao mundo, para frear seu pensamento...
A luta aprisiona e envenena. No verdadeiro sentido do termo. Viver em estado de alerta e de stress permanente acarreta no cérebro a liberação contínua de hormônios do stress: o cortisol, que usa o psíquico e o organismo. Um excesso de cortisol pode conduzir ao aparecimento de múltiplos males ou doenças mais severas. Doenças psicológicas mas também fisiológicas.

É indispensável desviar esta luta:
* Para traspassar uma "cortina" de mal-estar e de questionamento permanentes sobre o sentido das coisas.
* Para traspassar a sensação de se trair em aceitando.
* Para traspassar essa sensação constante de estar "fora" da vida, dos outros.
* Para conseguir se sentir bem com os outros respeitando-os nas suas diferenças sem se apagar, aceitando sentir suas emoções sem intervir.
* Para se conformar a uma vida bem diferente de nossa representação ideal mas "escolhendo-a".

Decodificação

* Pode-se refletir em sua vida, ver todos os limites, as imperfeições. Mas também localizar os pontos de força, os recursos, as vantagens, os prazeres.
* E se dizer: eu escolhi essa vida, conscientemente, deliberadamente. Passa-se de vítima impotente a piloto de seu destino. E isto muda tudo.
* Aceitar escolher, reescolher sua vida, é aceitar viver plenamente com e apesar de todas as faltas. É uma forma de liberdade. Pode-se tudo conceder!

Quando se para de lutar contra a vida, e quando se se orienta através dela, libera-se energia para construir, edificar, criar, avançar,...

A esperança

Quando tudo se torna ou retorna possível. Quando se recomeça a crer na vida. Quando se reencontra essa parte infantil em si que permite o entusiasmo. Quando se torna, enfim, mestre de seu destino e de sua destinação. Não mais um desejo de poder e de domínio. Mas num profundo prazer de descoberta de terras desconhecidas plenas de promessas e de novas aventuras, de novos reencontros, de novos caminhos.
Não esqueçamos que, na savana, as zebras têm finalmente muito pouco predadores. Elas têm frequentemente receio, mas raramente se fazem atacar. Suas listras apresentam uma vantagem única sobre os outros animais. Sua constituição lhes dá trunfos que os outros animais selvagens não possuem.
Você também, você é listrado? Então, vá, lance-se!

Em resumo, as ideias-forças para ir bem

1. Reaprisionar sua imensa inteligência para engajar projetos, para ajustar sua vida, para reencontrar o prazer de aprender e de compreender. A inteligência é uma Qualidade Íntima (QI?) da qual se deve apropriar-se para ser orgulhoso de si.
2. Utilizar a hipersensibilidade como uma maneira de ser no mundo, única, jubilatória, mágica. A hipersensibilidade é uma fonte de talentos.
3. A criatividade é a competência dos precursores, dos inovadores, dos líderes. A criatividade do sobredotado colhe sua fonte na arborescência de seu pensamento e aí se alimenta em contínuo.
4. A empatia, a capacidade de perceber a emoção dos outros, dá uma profundidade de campo excepcional à comunicação e às relações com os outros. A empatia é uma dimensão emocional rara que se abre ao mundo e aos outros, intimamente.
5. O deslocamento deve se tornar a ocasião privilegiada de tornar uma distância aproveitável para observar, analisar e compreender. Além das evidências, mais longe que as aparências. O deslocamento oferece perspectivas inéditas para se ajustar ao mundo e encontrar o seu justo lugar.
6. Ser sobredotado, é ter mil e uma riquezas que é preciso aprender, todos os dias, a descobrir!

CAPÍTULO 11

Quando nada caminha mais

Neste capítulo, é a face mais sombria que abordamos. Uma face que assinala um desfalecimento de si. Que pode levar o sobredotado a uma espiral de fragilidades cujo resultado não pode ser senão um imenso sofrimento. Com suas formas patológicas diversas. Evocar a face sombria é indispensável para bem compreender o que se pode produzir. E sobretudo o que se deve chegar a evitar. Como de hábito, o princípio é: perceber os mecanismos para poder prevenir os distúrbios.
O desenvolvimento da personalidade do sobredotado é marcado por componentes singulares de sua personalidade, sobre o duplo plano intelectual e afetivo. Quando se integra que ser sobredotado se define como uma inteligência que analisa e abraça todas as componentes do mundo harmonioso de uma sensibilidade extrema que capta o menor sinal emocional, torna-se fácil compreender que o percurso identitário pode ser fragilizado. O equilíbrio de vida pode ser também mais difícil de encontrar. A inquietude face à complexidade da vida aprofunda-se: serei eu capaz de fazer face?

Uma imagem de si em bases frágeis

Da pequena infância à adolescência, a construção da imagem do sobredotado se confronta na diferença. Com suas duas facetas, distintas na forma, mas com consequências similares.

* Primeiro cenário: a criança sobredotada percebe a si mesmo como diferente sem compreender porque ela não chega a ser, pensar, compreender, sentir como os outros. Ela tenta frequentemente, faz tentativas para se conformar, se adaptar, se ajustar. Mas isso lhe exige muita energia. Sua adaptação não é natural, espontânea, evidente. Ela se vê viva ainda que não viva. Isto funciona por vezes, ela se integra, cresce com os outros apesar deste deslocamento persistente e incompreensível para ela, mas por vezes também isso fracassa e a solidão a recaptura. Tanto mais quanto mais seus esforços para ser aceita como idêntica, parecida, foram sustentados. Ela não sabe mais muito bem quem ela é. Ela oscila entre uma imagem de sim mesma profundamente negativa - eu não tenho nenhum valor, eu não sou digna de ser amada, eu não conseguirei jamais nada - e uma convicção íntima e persistente que alguma coisa lhe escapa, mas o quê! Este desconforto psicológico, geralmente doloroso, confunde a representação de si e a possibilidade de estar 'bem na sua pele' e na sua vida. 

* Segundo cenário: o jovem sobredotado não percebeu sua diferença. Ele se pensa uma criança, um adolescente, como os outros. Ele não distingue as singularidades do seu pensamento e de sua sensibilidade. Ele pensa que todos funcionam como ele. Então, ele viverá certas reações, certos comportamentos, certos episódios de sua vida, como agressivos, injustos, profundamente chocantes. E, mais ele tentará dar sentido, pedir explicações, a estas manifestações vividas por ele como hostis, mais ele se confrontará à incompreensão. A sua e a dos outros. Perdido, sem compreender o que chega a ele e porquê, sem poder partilhar a desordem fugidia, ele tem o sentimento de perder o chão e se remete em causa: se todo mundo parece pensar que o que eu sou não convém, então isto significa que eu não valho muita coisa. Como construir, neste contexto, uma imagem de si sólida?

Às portas da idade adulta, as perturbações em torno da imagem de si não chegam a se estabilizar. O fluido em torno de sua identidade conduz geralmente o jovem adulto sobredotado a escolhas por "tentativas e erros". Quando não se sabe bem, muito bem, o que se é, do que se é capaz, em quê se é competente; quando se chega a não mais verdadeiramente saber o que se ama, o que lhe faz prazer; quando se tem tanto medo, tanto fundamentamente medo, de ser decepcionado, por si, pelos outros, pela vida, então não se pode nem planificar nem antecipar os contornos da vida. Tateia-se, tenta-se, engana-se, recomeça-se. Consegue-se por vezes encontrar um "justo lugar", mesmo se se o remete em questão. Um sobredotado não pode inibir este foco em perspectiva constante. A dúvida resta sempre presente. Reencontrar-se-ão as consequências de uma insatisfação crônica e persistente e numa certa forma de instabilidade de vida. Mudar de parceiro, de profissão, fazer novos projetos, mudar de direção de vida aos componentes frequentes do percurso de vida deste ser em busca incessante de absoluto e de verdade. O sobredotado persegue sua conquista identitária, tudo, ao longo de sua vida. Sem relaxamento.

>> Da infância à idade adulta, os distúrbios em torno da imagem de si...

.... ameaçam o desenvolvimento e a vivência do sobredotado.

De uma fragilidade na construção de uma imagem de si sólida e estável que permite crescer serenamente, na falta de confiança em si que gera uma ansiedade difusa, nós chegamos, neste contínuo, ao ataque doloroso da estima de si, verdadeira perda do sentimento do valor pessoal. As afetações depressivas e, no extremos patológico, a verdadeira depressão assinalam o impasse da vida na qual o sobredotado pode por vezes se precipitar com violência. 
Com as constantes presentes nestas diferentes etapas. Constantes que participam da alquimia complexa que corrói as bases da identidade do sobredotado e favoriza os riscos de perturbações mais severas. 

Quais são essas diferentes constantes?
* Os ataques exteriores e interiores. Sentir-se agredido pelos outros mas também se criticar constantemente, a si mesmo.
* O deslocamento como um sentimento de estranheza.
* A hiperreceptividade sensorial como uma aura de agulhadas emocionais constantes ou de feridas cortantes. 
* A inteligência aguçada que difunde em contínuo as dúvidas interiores, as questões, as incertezas.

| O modo de funcionamento do sobredotado é seu pior inimigo!

>> Proteger-se para crescer, defender-se para conseguir viver

No seu percurso identitário, o sobredotado colocará em ação mecanismos de proteção para se proteger dos afluxos emocionais transbordantes que se alimentam dessa dupla fonte: a inteligência aguçada e a sensibilidade exacerbada.
Em psicologia, esses mecanismos protetores são chamados mecanismos de defesa. Seu objetivo? Preservar a integridade do 'meu' e atenuar seus sofrimento. Quando esses mecanismos são flexíveis, eles asseguram sua função protetora com eficácia. Eles são aliados para cada um dentre nós. Mas, frequentemente, estes mecanismos se enrijecem pois as cargas emocionais são muito importantes, e a ameaça de sofrimento muito grande. Então, seu acionamento pode se transformar em armadilha: eles se tornam os pilares em torno dos quais se constrói a personalidade. De protetores, eles se tornam destrutivos.

Os mecanismos de defesa do sobredotado.
Dos mecanismos a conhecer, a compreender, a integrar. Os mecanismos que contribuem para assinalar sua marca na organização psicopatológica dos sobredotados, e que é indispensável considerar com a marca de um quadro clínico singular.
Observemos, em superficial plano, a dinâmica dos mecanismos de defesa do sobredotado, sua ativação, suas funções e seus limites.

1. Objetivos originais: não mais ser invadido pelo tumulto emocional, a receptividade dos outros, a análise constante do mundo.

2. Resultado esperado: chegar a se sentir bem através e apesar de tudo.

3. Estratégia defensiva: a posição de distância emocional.

4. Os meios
* O domínio e o controle
Para se tranquilizar, para tentar parar esse pensamento sempre em marcha, para parar a torrente das emoções, para não mais ser assaltado sem cessar pela dúvida e o medo, o sobredotado procura tudo dominar, guardar o controle. A maior parte de sua energia será consagrada a esta missão que por vezes ultrapassa: sobretudo não mais se deixar transbordar. Sobretudo antecipar, sobretudo não relaxar nada. Esses mecanismos de controle poderão tomar diversas formas: as discussões sem fim, a recusa de aceitar uma ordem, um castigo, sem ter expurgado o sentido, a verificação permanente para não mais deixar a percepção ao acaso, a procura extenuante da precisão impossível, os rituais obsessivos, a colocação em questão de tudo e todo tempo. Mas a lista é muito longa.

* A defesa pela cognição
"Meu intelecto desordena tudo o que meu emocional libera", explica claramente Valentin, 32 anos.
Passar pela intelectualização abusiva à menor emoção presente, analisar com frieza e distância a menor expressão afetiva, um mecanismo sólido e rígido que o sobredotado usa e abusa.

* A anestesia afetiva
Muito espetacular quando esse mecanismo de defesa atinge seu paroxismo. Nicolas testemunha: "À força de ter sufocado minhas emoções, hoje eu não sei mais quais são adaptadas em função das situações. Eu não sei mesmo mais como se exprimem as emoções, pelas palavras, pelos gestos, pelas atitudes. Isto me joga em turnos, pois eu pareço todo o tempo estranho e estrangeiro ao que se passa. Com minha namorada, é um desastre. Então, eu observo como fazem os outros e eu me calco nas suas reações emocionais. É a única solução que eu encontrei. Eu que era tão sensível, hoje eu não sinto mais nada. E eu não sei como fazer a máquina retroceder."

* O humor
Tornar as coisas insignificantes, avistar as situações sob uma forma risível, desviar uma conversa ofensiva em palavras espirituosas, todos os truques de humor são manejados com fineza pelo sobredotado. A vantagem do humor? Uma hábil manipulação das emoções que tornam transmissíveis sob uma forma cognitivamente correta e apreciada. Um afastamento sutilmente manejado. Uma transformação da ameaça emocional em trunfo de personalidade. Bem jogado! Mas sob duas condições: o humor deve ser utilizado com parcimônia. Um recurso abusivo não permite mais nenhuma relação autêntica. De um charme sedutor, o humor se torna então um veneno relacional. Segunda condição: que o humor não seja utilizado senão num sentido, pois o sobredotado, expert na matéria, vive muito mal o humor do qual ele é objeto. Como se de repente ele não compreendesse mais os mecanismos. Suas reações podem ser de uma rara violência, muito inesperada. Uma violência que mascara, uma vez ainda, a intensidade da descarga emocional que ele sentiu. Desconfiança, então!

5. Os riscos
* A construção de uma personalidade estratificada
Não mais estar conectado a suas emoções. Somente a fronte de sua inteligência racional está em atividade. Pode-se resultar uma frieza de personalidade, uma dificuldade de sentir, de viver as emoções. Mas sob o preço de uma energia imensa que esgota os recursos psíquicos. É o combate contra si mesmo. Contra o que se é fundamentalmente. Este dique que se força a erigir entre si e o mundo, esta carapaça que se empreende para não mais ser emocionalmente atingido, este desatamento afixado demanda uma vigilância constante e esgotante. E, quando o mecanismo, sob os pesos de uma emoção violenta, não pode mais conter sua muito pesada carga, é o abatimento e o desespero nos quais o sobredotado será aspirado. Sem mais nenhuma possibilidade de se proteger. Ele está nu face ao sofrimento que então o submerge.
* Uma deriva pelas perturbações psicológicas mais severas que entravarão seu perigoso percurso.

Pode-se falar em patologia específica do sobredotado?

Não se trata disso. Inicialmente, repetimo-lo, ser sobredotado não é uma patologia. Em revanche, o sofrimento do sobredotado, se ele pode revestir as formas clássicas de perturbações psicológicas, não se pode abordar da mesma maneira. A diferença está lá: não mais na forma do distúrbio, da aparência clássica, mas de seu conteúdo.
Alguns sofrimentos aparecem de maneira característica no adulto sobredotado.
Então, sim, bem que os quadros clínicos não sejam repertórios nas classificações internacionais dos distúrbios psicológicos, sua frequência de aparição, sempre com as mesmas particularidades, dever ser conhecida dos clínicos.

quarta-feira, 30 de março de 2016

>> O sentido da vida afogada de questionamentos infinitos: a dor de viver

A dor de viver
O desejo de viver é intacto, o que é diferente do estado de suicídio. Mas a dificuldade de viver é intransponível. "É muito difícil", resume esta paciente de 42 anos que diz que todas as manhãs ela se pergunta como vai transpor o dia. "Os cinco primeiros minutos, eu sou suicida porque eu penso em muitas coisas de uma só vez, é horrível!"
Não mais porque ela não sente coragem, isto chega como a estados depressivos e que a medicina chama apatia ou abolia. Mas por causa da energia que se precisaria mobilizar para:
1. proteger-se,
2. encontrar o interesse nas coisas,
3. não achar tudo inútil,
4. dar sentido à sua existência,
5. chegar a dar troca aos outros, que se torna uma prova insuportável e intensamente dolorosa.

Em sessão de terapia, nós decidimos fazer um jogo. Nathan, 9 anos, é o psicólogo. Ele me interroga: "- Qual é sua paixão de viver?". Já!

O que significa o quanto dessa questão da vida, de seu sentido, do sentido das coisas, do interesse de viver, é um fio contínuo no espírito do sobredotado. Um pensamento que o agulha sem cessar. Por momentos, quando a vida é mais excitante, que o sobredotado é pego num turbilhão que o satisfaz e o apazigua, a questão se atenua e se estende no fundo de sua cabeça. Mas, desde que o curso da vida se torne mais calmo, mais monótono, que uma decepção ou um fracasso entrave o percurso, a questão ressurge com força e se coloca, implacável, entre si e o mundo. Ela se torna incontornável e mortífera.
A dificuldade: como ajudar? Pois toda tentativa de racionalização, toda estratégia pode abrir novas maneiras de pensar, de se representar as coisas e a vida, todo processo empregado para se apaziguar o sofrimento vem apoiar-se nessa interrogação fatal e incansavelmente repassada pela análise aguçada do sobredotado: como viver esta vida, como assim?

>> A inibição social: retirar-se do mundo

"Não é um acaso se eu me fecho num atelier para me proteger do mundo." Dominique tornou-se tapeceira. Ela o decidiu subitamente no dia em que, uma vez mais, uma vez muito, ela se sentiu agredida pelos outros. Onde seu sentimento, antigo, de deslocamento, de estranheza, de diferença, convenceu-a definitivamente que ela seria sempre rejeitada, que ela não voltaria a se sentir bem com os outros. Que isso lhe demandaria muitos esforços.
A inibição social ameaça o sobredotado. Sob uma forma mais ou menos severa. Diria-se de alguns que é sua característica, que eles são 'selvagens', 'antissociais', mas eles restarão inscritos, no mínimo, num tecido social. Para outros, o retrato social isola-os profundamente do mundo. Recuados, solitários, eles se mantêm como o exterior senão através de relações vitais, profissionais por vezes, mas podem afogar-se em estados mais críticos de depressão crônica no prognóstico mais sombrio. Eles se construíram uma carapaça tão sólida. É difícil alcançá-los e mesmo ajudá-los. Seu medo do mundo, de seus perigos, é tão grande! Sair de seu "terreno", qual o interesse? Para sofrer ainda mais? Não, obrigado. 

>> As derivas adicionais para não mais pensar

Das drogas ao álcool, dos jogos de vídeo ao trabalho, da televisão à internet... todos os aditivos são possíveis. 
"A única força vital que não se pode parar, é o pensamento." Rafael, oito anos e meio.
Então, quando não se pode parar de pensar, quando o turbilhão é insuportável, quando se tem a impressão que a cabeça vai explodir e que todas essas ideias, todos esses pensamentos se desdobram em questionamentos infinitos, as tristeza opacas, o embrutecimento de uma atividade que pode absorver totalmente o pensamento, exterminar a agitação cerebral infernal, torna-se a única solução... vital! Mas a deriva aditiva é dissimulada: apaziguadora um certo tempo, é ela que se torna angustiante... Ela chega a tranquilizar certo pais preocupados com seu adolescente submetido à sua tela. Eu explico o alívo que isto pode representar para o sobredotado, após uma jornada de escola, evadir-se num mundo onde se pode ser o herói. Reencontrar uma toda-força é tão repousante. De uma certa maneira, é um ansiolítico que o adolescente utiliza espontaneamente para acalmar suas angústias. Um pouco, é bom e útil. Muito, é claro, vai se tornar uma armadilha. Mas sabe você que o trabalho pode ter as mesmas virtudes e comporta os mesmos riscos? Consagrar o mais claro de sua vida à sua atividade profissional é uma luta contra a ansiedade. O risco? Quando as angústias ressurgem brutalmente.

>> Os distúrbios do sono

No momento de deitar, é difícil fazer cessar o fluxo de pensamento. De reduzir sua intensidade. Os problemas de adormecimento são frequentes e recorrentes. Encontra-se também uma manifestação inversa, a hipersonolência como sedativo poderoso do pensamento: mais se dorme, menos eu penso.

>> A inibição intelectual como estratégia de adaptação

"Ser um verdadeiro idiota, é um bom remédio para minha doença. Eu tenho necessidade de um tratamento radical: ser um idiota, isto será a quimioterapia de minha inteligência. É um risco que eu tomo sem hesitar. Mas se, em seis meses, você perceber que eu me esgoto um pouco mais, intervenha! Meu objetivo não é tornar-me estúpido e cupido, mas deixar circular moléculas no meu organismo, para purificar meu espírito muito doloroso. Mas não intervenha antes de seis meses. É também um risco. Tanto mais que ser imbecil comporta muito mais prazer que viver sob o jugo da inteligência. É-se mais feliz, é certo. Eu não deveria guardar o sentido da imbecibilidade, mas os elementos benéficos que aí nadam como oligoelementos: a felicidade, a uma certa distância, uma capacidade de não mais sofrer de minha empatia, uma leveza de vida, de espírito. De despreocupação! Finalmente, tornando-se idiota, eu poderia, por uma vez, fazer prova de uma surpreendente inteligência. Você me acha pérfido?" (1)
(1) Martin Page, Como eu me tornei estúpido, Comment je suis devenu stupide. Le Dilettante, 2000.

Inibir-se para sobreviver...
A inibição é uma estratégia poderosa cujos efeitos são por vezes irreversíveis. Quando se desencadeia uma energia considerável para sufocar, ver destruído, todo um pano de sim mesmo, resulta que os efeitos procurados ultrapassam o objetivo inicial. Trata-se de apaziguar um sofrimento insidioso, chega-se a um empobrecimento de si e um real deserto interior. Resulta em personalidades apagadas, perdidas numa existência sem significação e, o mais frequente, isoladas socialmente. O objetivo de 'se tornar estúpido" tornaram-nas indiferentes a elas mesmas e transparentes aos olhos dos outros. 

>> O humor que muda sem razão aparente

"Eu tenho a impressão de ter saltos de humor, de repente eu estou hipercontente e em seguida, eu estou triste." Laura, 25 anos.

Ligada à rapidez de ativação dos laços em arborescência, o encadeamento de ideias ativa, em um tempo muito rápido, representações, pensamentos, emoções, lembranças em coloração bem positiva, negativa, ansiogênica, prazerosa. Esta instabilidade de humor pode ser confundida com quadros clínicos clássicos de depressão ou de distúrbio bipolar. Trata-se somente do funcionamento cognitivo que transporta na sua fusão incessante toda a gama de emoções.
Para o sobredotado, é uma vivência por vezes difícil pois ele não tem acesso às raízes de suas mudanças rápidas de humor. Ele não sabe nem porque ele está triste nem porque ele se sente bem. De uma certa maneira, ele é a vítima impotente de um funcionamento cerebral que o governa e o ultrapassa. Ele não tem mais acesso a ele mesmo, o que pode também ser uma verdadeira fonte de angústia e mal-estar. Inacessível a uma compreensão e a uma análise clássicas. 

O perigo: os erros diagnósticos

A expressão do sofrimento do sobredotado, por vezes próximo, na sua forma, das patologias clássicas, pode conduzir a frequentes erros diagnósticos. Os profissionais pouco informados e mal formados neste ordenamento específico da personalidade se arriscam em engajar esse paciente nas respostas terapêuticas pouco adaptadas. Sob o risco de jamais conseguir aliviar as perturbações.
> As derivas diagnósticas mais clássicas.
~ O pensamento divergente, a rapidez de associação de ideias, os encadeamentos lógicos não respeitados pela velocidade da arborescência... podem evocar um diagnóstico de esquisofrenia. A frieza emocional, a distância emocional reforçarão esta hipótese diagnóstica.
~ A instabilidade do humor, momentos de excitação que contrastam com momento de profundo pessimismo, exaltação de humor, tanto de sinais que se arrastam num quadro de distúrbio bipolar (inicialmente denominado psicose maníaco-depressiva).
~ A sensitividade, a receptividade emocional exacerbada, os momentos de regressão, a adaptação social flutuante, tantos indícios que defendem em favor de uma patologia bordeline ou estado-limite.
~ Depressão, perturbação ansiosa, fobia... serão, eles, bem distintos. Mas não compreendido na sua organização singular. Dúvida...

segunda-feira, 28 de março de 2016

O sobredotado, vítima dos equívocos diagnósticos, tão desejoso de encontrar uma saída a seus sofrimentos, vai entabular uma longa peregrinação, de psicólogo em psicólogo, de diagnóstico em diagnóstico... Primeiro, ele crê, depois pouco a pouco fica ofegante. E uma nova armadilha se refecha: agora ele não tem mais confiança em ninguém e ainda menos naqueles que pretendem compreendê-lo e cuidar dele. A errância diagnóstica trancou o acesso possível à ajuda que ele procurava e reclamava ruidosamente, sem saber como pedir ajuda. Ele é para ele mesmo um enigma...

As armadilhas do procedimento

"Você certamente irá achar isto estúpido, mas, quando estou com um psicólogo, eu tenho rapidamente a convicção que ele não compreende. Que ele não alcança a natureza do meu problema, de minhas dificuldades. Então, eu sei. Melhor que ele. Algumas vezes, eu tenho mesmo a impressão que sou eu que sou obrigada a colocá-lo na via. Que sou eu que o ajuda a... se dizer me ajudar. Mas, no fundo, eu penso que ninguém pode me ajudar. Não há senão eu, que possa fazer alguma coisa." Assim se confia, com uma mistura de vergonha e de humilhação, esta paciente de trinta e oito anos, desenganada, esgotada, também por duas jovens zebras...

O procedimento apóia-se frequentemente sobre esta ambivalência: a necessidade infinita de encontrar alguém que possa compreender, alguém que enfim permitiria se sentir transportado, e a necessidade de domínio e de controle que tranca a possibilidade de dar um lugar ao outro.

Atenção ao conceito da moda do acalmar-se (lâcher-prise)

Ele convém mal ao funcionamento do sobredotado. É um obstáculo frequente inspirado pelas correntes psicológicas atuais. A ideia é fazer ceder as tensões interiores para se reconectar profundamente a si mesmo e se preencher de uma calma benfazeja, fonte de cura. Mas, para um sobredotado, é precisamente nestes momentos de relaxamento que os pensamentos se multiplicam pois eles terão espaço liberado, e se ele chega, um pouco, a parar seus pensamentos, é a angústia, difusa, que aparece.
Para apaziguar seus pensamentos, o melhor conselho é propor ao sobredotado mergulhar totalmente em outra coisa, muito distante de suas ocupações habituais e que o absorva completamente. Quanto mais for deslocado em relação ao seu cotidiano e ao seu modo de vida ordinário, melhor é. O que conta é poder se entregar a essa atividade, a esse passatempo, plenamente. Uma depuração para o pensamento!

Recapitulações

* Ser sobredotado é uma componente da personalidade, não é uma patologia.
* Ser sobredotado dá uma coloração específica à expressão de sofrimento que é preciso saber reconhecer e ter em conta para ajudar e acompanhar eficientemente dentro de um processo terapêutico adaptado.
* Ignorar as especificidades da estrutura psicodinâmica da personalidade do sobredotado, é tomar o risco de erros diagnósticos que podem seriamente precipitar o sobredotado em sofrimentos inextricáveis e desvios de vida.
* O procedimento de observação do sobredotado comporta alavancas terapêuticas que é preciso conhecer e saber utilizar. Em particular, pode-se apoiar sobre o si cognitivo geralmente intacto mas sufocado. Pensar é estar na fonte do sofrimento, mas se pode ajudar o sobredotado a reaprisionar seu pensamento para fazê-lo aliado no processo de reabilitação de si. Como se se restaurasse um antigo prédio: tudo é fenda, o teto desaba, mas as fundações resistem e pode-se apoiar sobre elas, reforçá-las para reconstruir uma base sólida e protetora. Mas aberta também, para fazer entrar os outros, a vida, sem ter medo de ser atacado. Não é mais uma casa construída para repelir os ataques de inimigos imaginários, mas uma casa concebida para estar bem e se sentir bem com os outros. É bem diferente.

As benfeitorias da grande inteligência,

As benfeitorias da grande inteligência, atestados por um certo número de estudos recentes. Para se elevar a moral!
* As pessoas inteligentes têm menos riscos de sofrer de doença mental, anuncia a Universidade de Cambridge.
* Um QI elevado pode diminuir o grau de severidade de certos problemas psicológicos com a depressão e a esquisofrenia.
* Os pesquisadores demonstraram que os sintomas são menos severos e que a possibilidade de se adaptar é maior nas pessoas tendo um QI elevado.

A inteligência é um fator protetor contra a patologia!

À guisa de conclusão

Ao longo de toda a redação deste livro, veio-me frequentemente a ideia de parar, na minha cabeça ou no meu computador, e de me interrogar: e se tudo isso for pura quimera? E se os sobredotados não forem o que eu descrevi? E se todos estes detratores ignorantes tiverem finalmente razão e que é inútil se preocupar desses seres transbordados pela natureza?
Sim, eu vos asseguro, isto chegou-me mais de uma vez, assaltada por essas dúvidas insidiosas! E depois, alguns instantes mais tarde, eu me reencontrei diante de uma criança, de uma adolescente, de uma família, de um adulto e, na sua história, na natureza de seu desespero, de sua errância, nas suas palavras e na sua atitude, a fulgurância da certeza revém com uma força admirável. Mas como eu pude um só instante pensar que a incrível singularidade dessas personalidades não revelava uma realidade clínica patenteada? Então, abastecida dessa evidência, alimentada de tudo o que foi dito, descrito, provado, confirmado hoje pela ciência, eu retorno à escritura com um ardor e uma vontade de transmitir ainda mais vivos. Vocês existem, eu tenho certeza, eu vos encontrei!

domingo, 27 de março de 2016

Possa este livro vos ajudar a revelar toda essa magnificência do que você é, com essa inteligência intensa e esta sensibilidade excepcional que fazem de vocês essas personalidades de uma tal força frágil. Tome intimamente, definitivamente consciência de cada parcela de que vos constitui e que faz de vocês um ser singular nos múltiplos talentos apesar das numerosas armadilhas. 
Aproveite tudo e irradie em torno de você. O mundo tem necessidade. Vosso êxito de vida é também aquele de todos.
E lembre-se dessa coisa simples: pode-se ter sido uma criança comum e se tornado um adulto extraordinário. Nada jamais é jogado tanto que se o é em vida. A cada etapa da sua vida, pode-se pegar um novo caminho. Tudo é sempre possível. Modificar sua rota, modificar o olhar sobre si e sobre os outros é uma maravilhosa aventura. Isto dá medo, certamente, mas que novos prazeres em perspectiva!
E sobretudo, sobretudo, guarde preciosamente vossa alma de criança, vossa ingenuidade refrescante, vossa criatividade fulgurante, vossa sensibilidade transtornante, vossa curiosidade sempre em alerta, vossa inteligência efervescente. Guarde todos esses recursos que fazem de você um adulto decididamente diferente. Um adulto que não se tornará jamais uma " pessoa grande"! grifo meu: um adulto.