quinta-feira, 21 de abril de 2016

A empatia como competência

A empatia, esta capacidade de perceber as emoções dos outros, é uma competência que, se ela pode por vezes fazer sofrer, abre-se a grandes e belas possibilidades.
Na relação, primeiramente. Captar o estado emocional do outro permite se harmonizar. Pode-se então avaliar a abertura de nosso discurso, o impacto de nossa presença, a incidência de nosso comportamento. E se ajustar. Quando não se desfruta da capacidade de empatia, fica-se geralmente "fora do assunto". Não se compreende uma situação senão a face exposta, e toda a sutileza nos escapa. Uma personalidade empática é aquela a que se ama confiar. Aquela que nos compreende por meia palavra. Aquela que vibra no mesmo tempo.

"Quando me falam, eu tenho a impressão de me sentir 'embaixo' do discurso. Eu devo sempre interrogar-me: - Será que eu respondo ao que se me diz ou ao que eu sinto? " Sandra traduz claramente o impacto da empatia na comunicação. Com suas armadilhas e seus trunfos.

>> Ser empático é ser simpático.
Quantos sobredotados são os confidentes designados? Quantos são aqueles a quem se virá a pedir ajuda, assistência, conselho para regrar mil e uma pequenas coisas da vida? É ao sobredotado que incumbirá mais frequentemente os 'pequenos arranjos entre amigos'. Pode-se contar com ele. Você pode então contar com esta competência emocional, vossa empatia natural, para ser amado e apreciado pelos outros.

>> Ser empático é uma capacidade de adaptação desejável.
A empatia é um trunfo para se ajustar em numerosas situações da vida e para antecipar a resposta melhor adaptada. No meio profissional, você compreenderá instintivamente que não é o dia para pedir um aumento pois você percebe a cólera ou a tristeza de seu chefe: numa negociação, você saberá adaptar seu discurso segundo a tonalidade emocional de seu interlocutor: numa relação comercial você saberá captar as variações emocionais de seu cliente potencial que vos permitirá reagir com argumentos convincentes... nos casais, é a empatia que é a melhor aliada para responder às expectativas, às necessidades do outro. Mesmo quando nada foi dito. É a empatia que cria esta cumplicidade muda, cimento de uma relação completa.

>> A empatia, a qualidade dos psicólogos?
Alice Miller, no seu livro notável O futuro do drama da criança dotada, diz que as crianças dotadas foram geralmente crianças terapeutas de seus pais. Eles chegam a decodificar e compreender do que os pais teriam necessidade para lhes satisfazer nos seus atos e seus comportamentos. Preenchendo as faltas afetivas de seus pais, a criança dotada torna-se expert para decodificar os sentimentos dos outros e isto lhe interessa pois isto sempre constitui para ela um "modo de ser". Então, adulta, ela se tornará... psicólogo! Alice Miller que o diz.
Poder compreender e aproximar o sentido do mundo e o funcionamento do homem com uma tal capacidade de empatia não é em efeito o perfil ideal para um psicólogo? Em torno de mim, eu conhecia muito dos psicólogos certamente sobredotados, mas que, mais frequentemente, não queriam o reconhecer. Como se o fato de ser sobredotado retirasse seu mérito profissional e pessoal.
Na minha prática clínica, eu tenho frequentemente encontrado adolescentes sobredotados que pensavam nessa profissão. Alguns já estão engajados. Eu prometi lhes propor uma colaboração no final de seus estudos. Eu tinha meus engajamentos! Eles serão psicólogos excepcionais... e talvez eu lhes pediria ser seu paciente! É verdade! Eu tenho uma real confiança nas suas capacidades de escuta, de empatia e sobretudo de síntese criativa para permitir-me acessar novas vias em mim que eu jamais explorei!

A sincronização das emoções: colocar-se no tempo.

A empatia oferece essa oportunidade rara: estar no tempo. O tempo emocional. Sentir com esta fineza e esta sensibilidade as emoções dos outros permite reagir e interagir, no bom momento. E a empatia não capta somente as emoções negativas, ela consegue também todas as nuances agradáveis do espectro emocional. Você perceberá uma leveza alegre no ar, em torno de você o prazer flutua, as emoções são felizes. Alimente suas reservas, capture estas emoções positivas. Elas vos serão úteis nos momentos mais difíceis. Elas alimentam vossas reservas, vossos recursos. É preciso sempre fazer provisões... lembre-se da cigarra e da formiga!
O tempo emocional é o que a maior parte das pessoas sentem partilhando um momento de música, ou melhor ainda, de dança. Sente-se vibrar no mesmo ritmo, levado pela emoção ambiente, pousado sobre as sensações do outro. Se é levado, transportado. São os momentos mágicos. A empatia, bem equilibrada, pode multiplicar esses momentos recursos.

Ainda quaisquer astúcias para transformar seu sonho de vida em vida de sonho (ou quase!)

>> Retirar do deslocamento competências novas.

O tédio leva a avançar, a criar, a encontrar ideias. Quando se compreende que este tédio é ligado ao tempo, que não é a vida que é tediosa, que a vida é aquela que construímos, o tédio torna-se um motor.
Você se entendia? Tanto melhor!
1. Vosso cérebro divaga, associa e cria.
2. Você poderá transformar esta vagabundagem de pensamento em realização.

O tédio permite imaginar e decidir uma vida na qual sente-se bem.

>> O senso do desafio: uma força poderosa para se propulsionar.

O sentido do desafio corresponde ao prazer que se sente quando se transpôs uma dificuldade. O sentido do desafio está ligado ao desejo de êxito. À necessidade íntima de ser um orgulho para si, do que se é. De sentir igualmente o orgulho no olhar dos outros. Não se trata de pretensão, de soberba. Mas de uma necessidade imperiosa de avançar, de transpor. O sentido do desafio é um motor de grande potência.
Quando o percurso do sobredotado lhe dá a chance de estar confrontado a esta jubilação do êxito. Pequeno ou grande. Que a vida ofereceu possibilidades de satisfação, de realização. Que se pôde guardar uma confiança em si suficiente e que se cresceu num entorno benevolente, apesar das inevitáveis falhas. Então, o sentido do desafio do sobredotado lhe empurra a realizar grandes coisas. Para ele, para os outros. Alimentado desta sede de humanidade, de defender grandes causas, ele avança. Como propulsionado por uma energia própria e irreprimível.
   O sentido do desafio permite transpor dificuldades ligadas a suas dificuldades de ser.
   O sentido do desafio dá uma energia excepcional para conseguir o que se empreendeu.
   O sentido do desafio: conseguir, para ir à extremidade de si mesmo.

domingo, 3 de abril de 2016

>> A energia do sobredotado: uma força sobrenatural?

A energia que é capaz de fazer prova a um sobredotado, é impressionante e esgotante para os outros. Todo mundo está fatigado? Ele continua. Os outros pensam o combate impossível, ele se confronta. A saída de uma situação parece fechada, ele encontra soluções. Sempre. Como a pequena criança, a pequena zebra parece inesgotável que ele continua a ser. E jamais cansada. Esta energia, é nela que se encontra, na sua constituição que também tem grandes reservas. Algumas vezes, ele está absorvido na sua tarefa, concentrado até o extremo, ele esquece tudo. O tempo passa, os imperativos ambientais, os outros, as pressões, inclusive as bases fisiológicas: comer, beber, dormir. Mergulhado em sua tarefa, na sua missão, nada pode detê-lo.
Sejamos prudentes: essa energia quase sobrenatural pode se transformar em seu contrário de maneira também espetacular. Se o adulto sobredotado está profundamente persuadido de que ele é nulo, incompetente, que isso que ele faz não serve para nada, que ele não conseguirá jamais, então é todo o contrário que se produz. Ele fica imóvel, congelado, diminuído, apático, 'morto'. Tão pesado e penível que nada pode fazê-lo mudar. Desconfiança: é a mesma energia, voltada contra si.
|| Inverta o movimento. Você repartirá a viva velocidade no sentido inverso. E você empregará uma energia insuspeita de você com a mesma força que aquela que você imobilizou. Lembre-se das montanhas russas: depois da descida abissal e angustiante, a subida acelerada e exaltante! Um looping, e partiu!

>> o idealismo: um sofrimento positivo!

Perseguir um ideal pode ser doloroso, os riscos de decepção são numerosos. Pode-se não ter medo deste sofrimento, mas, ao contrário, utilizá-lo. O idealismo é uma força em si. O idealismo obriga a manter os esforços necessários para chegar ao objetivo fixado. O idealismo cria uma meta que faz avançar.
| O idealismo em relação a si favoriza a realização pessoal.
| O idealismo permite sobrepassar e conseguir grandes projetos.

Quando se chega a relaxar esta luta esgotante...

O sobredotado luta em permanência, para sua sobrevivência psíquica, para canalizar suas emoções, para se adaptar aos outros e ao mundo, para frear seu pensamento...
A luta aprisiona e envenena. No verdadeiro sentido do termo. Viver em estado de alerta e de stress permanente acarreta no cérebro a liberação contínua de hormônios do stress: o cortisol, que usa o psíquico e o organismo. Um excesso de cortisol pode conduzir ao aparecimento de múltiplos males ou doenças mais severas. Doenças psicológicas mas também fisiológicas.

É indispensável desviar esta luta:
* Para traspassar uma "cortina" de mal-estar e de questionamento permanentes sobre o sentido das coisas.
* Para traspassar a sensação de se trair em aceitando.
* Para traspassar essa sensação constante de estar "fora" da vida, dos outros.
* Para conseguir se sentir bem com os outros respeitando-os nas suas diferenças sem se apagar, aceitando sentir suas emoções sem intervir.
* Para se conformar a uma vida bem diferente de nossa representação ideal mas "escolhendo-a".

Decodificação

* Pode-se refletir em sua vida, ver todos os limites, as imperfeições. Mas também localizar os pontos de força, os recursos, as vantagens, os prazeres.
* E se dizer: eu escolhi essa vida, conscientemente, deliberadamente. Passa-se de vítima impotente a piloto de seu destino. E isto muda tudo.
* Aceitar escolher, reescolher sua vida, é aceitar viver plenamente com e apesar de todas as faltas. É uma forma de liberdade. Pode-se tudo conceder!

Quando se para de lutar contra a vida, e quando se se orienta através dela, libera-se energia para construir, edificar, criar, avançar,...

A esperança

Quando tudo se torna ou retorna possível. Quando se recomeça a crer na vida. Quando se reencontra essa parte infantil em si que permite o entusiasmo. Quando se torna, enfim, mestre de seu destino e de sua destinação. Não mais um desejo de poder e de domínio. Mas num profundo prazer de descoberta de terras desconhecidas plenas de promessas e de novas aventuras, de novos reencontros, de novos caminhos.
Não esqueçamos que, na savana, as zebras têm finalmente muito pouco predadores. Elas têm frequentemente receio, mas raramente se fazem atacar. Suas listras apresentam uma vantagem única sobre os outros animais. Sua constituição lhes dá trunfos que os outros animais selvagens não possuem.
Você também, você é listrado? Então, vá, lance-se!

Em resumo, as ideias-forças para ir bem

1. Reaprisionar sua imensa inteligência para engajar projetos, para ajustar sua vida, para reencontrar o prazer de aprender e de compreender. A inteligência é uma Qualidade Íntima (QI?) da qual se deve apropriar-se para ser orgulhoso de si.
2. Utilizar a hipersensibilidade como uma maneira de ser no mundo, única, jubilatória, mágica. A hipersensibilidade é uma fonte de talentos.
3. A criatividade é a competência dos precursores, dos inovadores, dos líderes. A criatividade do sobredotado colhe sua fonte na arborescência de seu pensamento e aí se alimenta em contínuo.
4. A empatia, a capacidade de perceber a emoção dos outros, dá uma profundidade de campo excepcional à comunicação e às relações com os outros. A empatia é uma dimensão emocional rara que se abre ao mundo e aos outros, intimamente.
5. O deslocamento deve se tornar a ocasião privilegiada de tornar uma distância aproveitável para observar, analisar e compreender. Além das evidências, mais longe que as aparências. O deslocamento oferece perspectivas inéditas para se ajustar ao mundo e encontrar o seu justo lugar.
6. Ser sobredotado, é ter mil e uma riquezas que é preciso aprender, todos os dias, a descobrir!

CAPÍTULO 11

Quando nada caminha mais

Neste capítulo, é a face mais sombria que abordamos. Uma face que assinala um desfalecimento de si. Que pode levar o sobredotado a uma espiral de fragilidades cujo resultado não pode ser senão um imenso sofrimento. Com suas formas patológicas diversas. Evocar a face sombria é indispensável para bem compreender o que se pode produzir. E sobretudo o que se deve chegar a evitar. Como de hábito, o princípio é: perceber os mecanismos para poder prevenir os distúrbios.
O desenvolvimento da personalidade do sobredotado é marcado por componentes singulares de sua personalidade, sobre o duplo plano intelectual e afetivo. Quando se integra que ser sobredotado se define como uma inteligência que analisa e abraça todas as componentes do mundo harmonioso de uma sensibilidade extrema que capta o menor sinal emocional, torna-se fácil compreender que o percurso identitário pode ser fragilizado. O equilíbrio de vida pode ser também mais difícil de encontrar. A inquietude face à complexidade da vida aprofunda-se: serei eu capaz de fazer face?

Uma imagem de si em bases frágeis

Da pequena infância à adolescência, a construção da imagem do sobredotado se confronta na diferença. Com suas duas facetas, distintas na forma, mas com consequências similares.

* Primeiro cenário: a criança sobredotada percebe a si mesmo como diferente sem compreender porque ela não chega a ser, pensar, compreender, sentir como os outros. Ela tenta frequentemente, faz tentativas para se conformar, se adaptar, se ajustar. Mas isso lhe exige muita energia. Sua adaptação não é natural, espontânea, evidente. Ela se vê viva ainda que não viva. Isto funciona por vezes, ela se integra, cresce com os outros apesar deste deslocamento persistente e incompreensível para ela, mas por vezes também isso fracassa e a solidão a recaptura. Tanto mais quanto mais seus esforços para ser aceita como idêntica, parecida, foram sustentados. Ela não sabe mais muito bem quem ela é. Ela oscila entre uma imagem de sim mesma profundamente negativa - eu não tenho nenhum valor, eu não sou digna de ser amada, eu não conseguirei jamais nada - e uma convicção íntima e persistente que alguma coisa lhe escapa, mas o quê! Este desconforto psicológico, geralmente doloroso, confunde a representação de si e a possibilidade de estar 'bem na sua pele' e na sua vida. 

* Segundo cenário: o jovem sobredotado não percebeu sua diferença. Ele se pensa uma criança, um adolescente, como os outros. Ele não distingue as singularidades do seu pensamento e de sua sensibilidade. Ele pensa que todos funcionam como ele. Então, ele viverá certas reações, certos comportamentos, certos episódios de sua vida, como agressivos, injustos, profundamente chocantes. E, mais ele tentará dar sentido, pedir explicações, a estas manifestações vividas por ele como hostis, mais ele se confrontará à incompreensão. A sua e a dos outros. Perdido, sem compreender o que chega a ele e porquê, sem poder partilhar a desordem fugidia, ele tem o sentimento de perder o chão e se remete em causa: se todo mundo parece pensar que o que eu sou não convém, então isto significa que eu não valho muita coisa. Como construir, neste contexto, uma imagem de si sólida?

Às portas da idade adulta, as perturbações em torno da imagem de si não chegam a se estabilizar. O fluido em torno de sua identidade conduz geralmente o jovem adulto sobredotado a escolhas por "tentativas e erros". Quando não se sabe bem, muito bem, o que se é, do que se é capaz, em quê se é competente; quando se chega a não mais verdadeiramente saber o que se ama, o que lhe faz prazer; quando se tem tanto medo, tanto fundamentamente medo, de ser decepcionado, por si, pelos outros, pela vida, então não se pode nem planificar nem antecipar os contornos da vida. Tateia-se, tenta-se, engana-se, recomeça-se. Consegue-se por vezes encontrar um "justo lugar", mesmo se se o remete em questão. Um sobredotado não pode inibir este foco em perspectiva constante. A dúvida resta sempre presente. Reencontrar-se-ão as consequências de uma insatisfação crônica e persistente e numa certa forma de instabilidade de vida. Mudar de parceiro, de profissão, fazer novos projetos, mudar de direção de vida aos componentes frequentes do percurso de vida deste ser em busca incessante de absoluto e de verdade. O sobredotado persegue sua conquista identitária, tudo, ao longo de sua vida. Sem relaxamento.

>> Da infância à idade adulta, os distúrbios em torno da imagem de si...

.... ameaçam o desenvolvimento e a vivência do sobredotado.

De uma fragilidade na construção de uma imagem de si sólida e estável que permite crescer serenamente, na falta de confiança em si que gera uma ansiedade difusa, nós chegamos, neste contínuo, ao ataque doloroso da estima de si, verdadeira perda do sentimento do valor pessoal. As afetações depressivas e, no extremos patológico, a verdadeira depressão assinalam o impasse da vida na qual o sobredotado pode por vezes se precipitar com violência. 
Com as constantes presentes nestas diferentes etapas. Constantes que participam da alquimia complexa que corrói as bases da identidade do sobredotado e favoriza os riscos de perturbações mais severas. 

Quais são essas diferentes constantes?
* Os ataques exteriores e interiores. Sentir-se agredido pelos outros mas também se criticar constantemente, a si mesmo.
* O deslocamento como um sentimento de estranheza.
* A hiperreceptividade sensorial como uma aura de agulhadas emocionais constantes ou de feridas cortantes. 
* A inteligência aguçada que difunde em contínuo as dúvidas interiores, as questões, as incertezas.

| O modo de funcionamento do sobredotado é seu pior inimigo!

>> Proteger-se para crescer, defender-se para conseguir viver

No seu percurso identitário, o sobredotado colocará em ação mecanismos de proteção para se proteger dos afluxos emocionais transbordantes que se alimentam dessa dupla fonte: a inteligência aguçada e a sensibilidade exacerbada.
Em psicologia, esses mecanismos protetores são chamados mecanismos de defesa. Seu objetivo? Preservar a integridade do 'meu' e atenuar seus sofrimento. Quando esses mecanismos são flexíveis, eles asseguram sua função protetora com eficácia. Eles são aliados para cada um dentre nós. Mas, frequentemente, estes mecanismos se enrijecem pois as cargas emocionais são muito importantes, e a ameaça de sofrimento muito grande. Então, seu acionamento pode se transformar em armadilha: eles se tornam os pilares em torno dos quais se constrói a personalidade. De protetores, eles se tornam destrutivos.

Os mecanismos de defesa do sobredotado.
Dos mecanismos a conhecer, a compreender, a integrar. Os mecanismos que contribuem para assinalar sua marca na organização psicopatológica dos sobredotados, e que é indispensável considerar com a marca de um quadro clínico singular.
Observemos, em superficial plano, a dinâmica dos mecanismos de defesa do sobredotado, sua ativação, suas funções e seus limites.

1. Objetivos originais: não mais ser invadido pelo tumulto emocional, a receptividade dos outros, a análise constante do mundo.

2. Resultado esperado: chegar a se sentir bem através e apesar de tudo.

3. Estratégia defensiva: a posição de distância emocional.

4. Os meios
* O domínio e o controle
Para se tranquilizar, para tentar parar esse pensamento sempre em marcha, para parar a torrente das emoções, para não mais ser assaltado sem cessar pela dúvida e o medo, o sobredotado procura tudo dominar, guardar o controle. A maior parte de sua energia será consagrada a esta missão que por vezes ultrapassa: sobretudo não mais se deixar transbordar. Sobretudo antecipar, sobretudo não relaxar nada. Esses mecanismos de controle poderão tomar diversas formas: as discussões sem fim, a recusa de aceitar uma ordem, um castigo, sem ter expurgado o sentido, a verificação permanente para não mais deixar a percepção ao acaso, a procura extenuante da precisão impossível, os rituais obsessivos, a colocação em questão de tudo e todo tempo. Mas a lista é muito longa.

* A defesa pela cognição
"Meu intelecto desordena tudo o que meu emocional libera", explica claramente Valentin, 32 anos.
Passar pela intelectualização abusiva à menor emoção presente, analisar com frieza e distância a menor expressão afetiva, um mecanismo sólido e rígido que o sobredotado usa e abusa.

* A anestesia afetiva
Muito espetacular quando esse mecanismo de defesa atinge seu paroxismo. Nicolas testemunha: "À força de ter sufocado minhas emoções, hoje eu não sei mais quais são adaptadas em função das situações. Eu não sei mesmo mais como se exprimem as emoções, pelas palavras, pelos gestos, pelas atitudes. Isto me joga em turnos, pois eu pareço todo o tempo estranho e estrangeiro ao que se passa. Com minha namorada, é um desastre. Então, eu observo como fazem os outros e eu me calco nas suas reações emocionais. É a única solução que eu encontrei. Eu que era tão sensível, hoje eu não sinto mais nada. E eu não sei como fazer a máquina retroceder."

* O humor
Tornar as coisas insignificantes, avistar as situações sob uma forma risível, desviar uma conversa ofensiva em palavras espirituosas, todos os truques de humor são manejados com fineza pelo sobredotado. A vantagem do humor? Uma hábil manipulação das emoções que tornam transmissíveis sob uma forma cognitivamente correta e apreciada. Um afastamento sutilmente manejado. Uma transformação da ameaça emocional em trunfo de personalidade. Bem jogado! Mas sob duas condições: o humor deve ser utilizado com parcimônia. Um recurso abusivo não permite mais nenhuma relação autêntica. De um charme sedutor, o humor se torna então um veneno relacional. Segunda condição: que o humor não seja utilizado senão num sentido, pois o sobredotado, expert na matéria, vive muito mal o humor do qual ele é objeto. Como se de repente ele não compreendesse mais os mecanismos. Suas reações podem ser de uma rara violência, muito inesperada. Uma violência que mascara, uma vez ainda, a intensidade da descarga emocional que ele sentiu. Desconfiança, então!

5. Os riscos
* A construção de uma personalidade estratificada
Não mais estar conectado a suas emoções. Somente a fronte de sua inteligência racional está em atividade. Pode-se resultar uma frieza de personalidade, uma dificuldade de sentir, de viver as emoções. Mas sob o preço de uma energia imensa que esgota os recursos psíquicos. É o combate contra si mesmo. Contra o que se é fundamentalmente. Este dique que se força a erigir entre si e o mundo, esta carapaça que se empreende para não mais ser emocionalmente atingido, este desatamento afixado demanda uma vigilância constante e esgotante. E, quando o mecanismo, sob os pesos de uma emoção violenta, não pode mais conter sua muito pesada carga, é o abatimento e o desespero nos quais o sobredotado será aspirado. Sem mais nenhuma possibilidade de se proteger. Ele está nu face ao sofrimento que então o submerge.
* Uma deriva pelas perturbações psicológicas mais severas que entravarão seu perigoso percurso.

Pode-se falar em patologia específica do sobredotado?

Não se trata disso. Inicialmente, repetimo-lo, ser sobredotado não é uma patologia. Em revanche, o sofrimento do sobredotado, se ele pode revestir as formas clássicas de perturbações psicológicas, não se pode abordar da mesma maneira. A diferença está lá: não mais na forma do distúrbio, da aparência clássica, mas de seu conteúdo.
Alguns sofrimentos aparecem de maneira característica no adulto sobredotado.
Então, sim, bem que os quadros clínicos não sejam repertórios nas classificações internacionais dos distúrbios psicológicos, sua frequência de aparição, sempre com as mesmas particularidades, dever ser conhecida dos clínicos.