A dor de viver
O desejo de viver é intacto, o que é diferente do estado de suicídio. Mas a dificuldade de viver é intransponível. "É muito difícil", resume esta paciente de 42 anos que diz que todas as manhãs ela se pergunta como vai transpor o dia. "Os cinco primeiros minutos, eu sou suicida porque eu penso em muitas coisas de uma só vez, é horrível!"
Não mais porque ela não sente coragem, isto chega como a estados depressivos e que a medicina chama apatia ou abolia. Mas por causa da energia que se precisaria mobilizar para:
1. proteger-se,
2. encontrar o interesse nas coisas,
3. não achar tudo inútil,
4. dar sentido à sua existência,
5. chegar a dar troca aos outros, que se torna uma prova insuportável e intensamente dolorosa.
Em sessão de terapia, nós decidimos fazer um jogo. Nathan, 9 anos, é o psicólogo. Ele me interroga: "- Qual é sua paixão de viver?". Já!
O que significa o quanto dessa questão da vida, de seu sentido, do sentido das coisas, do interesse de viver, é um fio contínuo no espírito do sobredotado. Um pensamento que o agulha sem cessar. Por momentos, quando a vida é mais excitante, que o sobredotado é pego num turbilhão que o satisfaz e o apazigua, a questão se atenua e se estende no fundo de sua cabeça. Mas, desde que o curso da vida se torne mais calmo, mais monótono, que uma decepção ou um fracasso entrave o percurso, a questão ressurge com força e se coloca, implacável, entre si e o mundo. Ela se torna incontornável e mortífera.
A dificuldade: como ajudar? Pois toda tentativa de racionalização, toda estratégia pode abrir novas maneiras de pensar, de se representar as coisas e a vida, todo processo empregado para se apaziguar o sofrimento vem apoiar-se nessa interrogação fatal e incansavelmente repassada pela análise aguçada do sobredotado: como viver esta vida, como assim?