quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Equilíbrio de vida, sobredotação e companhia: a arte da felicidade...

>> E quando se é sobredotado?

"Se somente eu pudesse ser feliz de tempos em tempos, eu poderia suportar todo o resto." Virginie, 22 anos, esgotados de uma luta obstinada em se sentir bem.
"Eu li um livro que aos hiperinteligentes falta a aptidão à felicidade. É certamente verdadeiro, mas eu tenho vontade de responder que não se pode ser bom em todo lugar. Se se refletir bem, eu tenho toda a vida para ser infeliz... em que é bom ser precoce (2)?"
(2) Tonino Benaquista, Tout à l'Ego, Gallimard, 1999.

É o momento de empregar 'inteligentemente' todos nossos tesouros de guerra: do menor átomo de inteligência à menor partícula de sensibilidade, e compreender com sua cabeça e seu coração, como a canção Mowgly no 'O livro da selva': "É preciso pouco para ser feliz, verdadeiramente pouco para ser feliz, é preciso se satifazer do necessário..."
Então, aqueles cujo corpo e a alma são tão sensíveis ao ambiente podem afinar cada uma das suas cordas, com sagacidade, perspicácia, eficácia, para guardar o coração de alvo como objetivo constante: o centro de si mesmo. 

Breve de consulta
Eu encontro Alain, adulto sobredotado de 46 anos. Nós falamos da felicidade, das felicidades. Eu evoco esta ideia que, para ser feliz, é importante ter recebido um pouco mais de satisfações que de provas. Numa espécie de balanço da vida. Eu me interrompo, pensativo: "Você esqueceu uma noção essencial, como é possível ser feliz sem dar. Para mim, dar faz parte das minhas maiores felicidades. Justo receber, mas não é suficiente! Dar é mais transcendente mesmo se, é claro, receber é importante. Mas é insuficiente!"

>> Dar por dar...

"O que conta na minha vida, é fazer as coisas para os outros, não por mim." Enzo tem 20 anos. Ele está triste pois tem dificuldade a admitir que essa necessidade altruísta seja tão raramente partilhada."
Para um sobredotado, dar se declina a tudo. Seu prazer é a certeza que ele pode fazer bem aos outros, que ele pode ajudar os outros a ir melhor. Encontra-se tal característica em todos os estágios da vida e em todas as circunstâncias: dar seus bombons, seus brinquedos na idade da infância àqueles mais desmunidos, dar seu tempo, sua escuta, na adolescência, para gerar os problemas de relações ou tornar-se espontaneamente o intermediário entre aqueles que não ousam se aproximar, dar de si para abraçar grande sonhos da humanidade ou ambiciosos projetos de combates contra a injustiça, dar a seu cônjuge num movimento natural para compreender e ajudar o outro, a suas crianças para as quais gostaria de tudo dar... Dar por dar. Dar como maneira de amar. Dar como sentido da vida sobre a terra.

A reviravolta da tendência natural
Encontra-se sobredotados, pequenos e grandes, particularmente egoístas. Egocêntricos. Jamais, no máximo jamais, eles desprenderão qualquer coisa deles mesmos ou partilharão o que eles têm. Eles têm personalidades que os tornam pouco simpáticos. Sua falta de generosidade conduz a rejeitá-los. Entretanto, se eles se tornaram tão personais, é contra sua vontade e contra sua natureza. Crianças, eles se entricheiraram por medo e não quiseram partilhar, por desconfiança, de intrusões afetivas que eles não teriam sabido administrar. Ou ainda, eles viveram uma sensação onipresente de invasão de seu terrritório. Precisar-se-ia exprimir o que para eles era indizível, explicar o que eles mesmos não compreendiam, precisar-se-ia mostrar os sentimentos de uma certa maneira, neste caso, onde a emoção era para eles devoradora... Eles foram assim julgados, incompreendidos, psicologicamente maltratados, involuntariamente, obviamente, mas suficientemente para tornar essas personalidades fechadas e azedas para quem dar-se constitui uma ameaça.

Reencontrar as raízes de si...
Se, no seu percurso, esses 'frustrados do dom' encontram alguém que os assegura suficientemente, que lhes oferece acesso à intimidade deles mesmos, então eles poderão reaprender este valor de dar e sair de sua prisão interior. Um novo sopro de vida e de liberdade os levará a momentos de vida plenos de promessas.

De 7 a 77 anos...

O que se sabe do futuro do adulto sobredotado?
Um pouco de tudo e seu contrário numa divertida mistura de gêneros: os que cresceram em pleno conhecimento de suas particularidades e que foram acompanhados, os que foram diagnosticados quando crianças e que foram maltratados, os que descobriram o diagnóstico através do diagnóstico de seus filhos, os que fizeram uma tentativa pessoal, mas também os que conseguiram êxito profissionalmente, socialmente, afetivamente, e os que têm o sentimento de ter passado ao lado de sua vida...
Em exemplo célebre, os cupins. Nada a ver com o animal! É o nome dado ao mais conhecido dos estudos americanos, conduzidos pelo psicólogo Lewis Terman, que estudou uma população de várias centenas de sobredotados da infância à grande idade. A maior parte das crianças incluídas no estudo de Terman eram bons alunos selecionados pelos professores, o que induziu então a um real desvio de recrutamento: as crianças já tinham encontrado boas estratégias de adaptação... E, efetivamente, quando se os encontra na idade adulta, eles têm situações profissionais de um nível elevado e eles construíram biografias de famílias equilibradas. Voltamos ingenuamente ao adágio popular: melhor vale ser rico, inteligente e em boa saúde que pobre, doente e idiota.. Um pouco simplista tudo isso!
Na França, uma observação concluída... a mesma coisa, mesmo se se trata de uma amostra microscópica (3). Trataria de avaliar a 'satisfação de vida' dos aposentados sobredotados. E eles estão bem mais satisfeitos que a média!
Um outro estudo francês sobre uma população mais importante confirma a correlação entre as funções cognitivas elevadas e um alto nível de satisfação de vida com um envelhecimento realizado. Ouf, diante disso já se ganhou, o sobredotado seria um 'velho' feliz.
Eu digo bem 'seria', pois não se pode colocar os resultados senão em perspectiva do percurso da vida. Mas se pode também pensar que mais se avança em idade, mais se desenvolve a capacidade de 'fazer a parte das coisas' e de recolocar seu lugar nos valores essenciais. Leva-se em conta finalmente que são estes que são os únicos válidos e que todas as pequenas contrariedades não merecem de nós desperdiçar a vida. Não é isto que se chama sabedoria?