quarta-feira, 27 de julho de 2016

A inteligência como recurso

"O que há é que é preciso aprisionar este sobremais de inteligência, percebê-la e fazer valer com conhecimento de causa, sobretudo, não mais achatar os outros... nem os subestimar não mais, aliás. Eu chamo isso de inteligência desabrochada e benevolente."

Tal é efetivamente a grande proposta. Como aprisionar este 'muito' de inteligência ou mais exatamente esta 'estranha inteligência', aquela que faz ver a vida de maneira tão diferente, tão amplificada, tão onipresente?

>> A inteligência como vetor da estima de si
A inteligência permite ser autocrítico, o que não comporta senão aspectos negativos. Quando se é inteligente, tem-se consciência dos momentos onde se é... imbecil! Reage-se de forma inadaptada. Não pertinente. E então aqui pode-se rir, zombar gentilmente de si e sobretudo corrigir. É um trunfo maior: a consciência de si e de seus atos permitem uma conscientização do que se é, do que se faz, do que se diz.
Enquanto outros funcionam sem nenhum recuo, o sobredotado pode se colocar em perspectiva. Esta profundidade de campo oferece inúmeros recursos. É preciso aproveitá-lo plenamente. Utilizar esta capacidade para autocrítica e para colocação em perspectiva para avançar. Crescer. Abrir-se. E não mais sofrer por causa dessa introspecção imediatamente negativa. Seja lúcido: é a dúvida que você prova sempre sobre você mesmo que deforma vossa percepção e dá automaticamente esta coloração negativa à imagem que você tem de você. Não é a sua realidade. Quando se pensa em si, pode-se colocar a opção positiva!
Desbravar esses espinhos que escondem uma floresta imensa. Onde podem se aventurar sem medo, e, ao contrário, fazer emergir toda a beleza para vosso maior bem e o dos outros. Não deixar essas ideias negativas ocultarem todas as riquezas escondidas. Elas aí estão. Elas vos pertencem. Aproveitem-nas.
A inteligência, esta forma de inteligência, permite verdadeiramente pegar sua vida na mão, em plena consciência. Vossa capacidade de autocrítica pode vos permitir considerar, também, esta inteligência como uma qualidade que, corretamente utilizada e bem canalizada, pode alimentar uma imagem positiva de si. E estando confiante do que se é, do que se pode realizar. 

>> A inteligência e a evasão pelo pensamento
O mais frequente é falar disso como um defeito. Critica-se, na infância e mesmo no adulto, evadir-se no pensamento. Pode-se compreender que este funcionamento pode ser irritante ou perturbador em certas situações. Mas é também uma maneira muito útil de utilizar seus recursos de pensamento. Se você se acha num momento difícil, que se sinta mal, sofra fisicamente, moralmente, você pode se desembaraçar dessa situação pelo pensamento. Fazer-se carregado e recarregado por ele. O imaginário rico alimentado pela memória, a exarcebação de todos os sentidos e as capacidades de associação podem fabricar um sonho suficientamente forte para vos extrair momentaneamente e vos alimentar. Trata-se de um ato voluntário, de utilização do pensamento como um utensílio a serviço de si. É uma técnica eficiente para não restar devorado no concreto, no pesado do insuportável. O corpo resta lá mas o espírito se destaca e todo nosso ser, físico e psíquico, participa da viagem. Um verdadeiro prazer. Uma verdadeira regalia para todos os sentidos e em todos os sentidos. Um pleno de energia. 
Um só condição para conseguir essa viagem e dela tirar todos os benefícios: guardar o controle. É uma viagem organizada.

>> A inteligência e as capacidades em memória: recordar-se das belas coisas...
A memória impressionante do sobredotado, em particular por tudo o que concerne a recordações pessoais, pode tornar-se um reservatório inesgotável de bem estar.
Esta memória é dita episódica pois ela registra os episódios de nossa vida. No sobredotado, ela é capaz de estocar com nitidez e precisão um número considerável de detalhes. Entre eles encontram-se uma ou mais imagens-recurso. Eu me atenho muito a esta ideia e eu me sirvo dela muito frequentemente em psicoterapia. Procure na sua memória, deixe ressurgir lembranças fugidias, as que são agradáveis, é claro. E você verá, você irá encontrar imagens-recurso. Aquela única evocação mental vos oferece instantaneamente uma sensação de bem-estar. Você a ativa no vosso espírito e tudo se detém em você, você se sentirá bem. 
O princípio é de reativar na memória, inclusive e talvez sobretudo na memória sensorial, todas as impressões vividas no momento onde você está face ou neste cenário que agora você rememora: os sons, as cores, os odores, a temperatura, as texturas, os jogos de sombra e de luz, os minúsculos detalhes que seu cérebro percebeu e registrou. 

Encontrar em si a imagem-recurso que permitirá ficar apaziguado nos momentos difíceis. 

Léo, adulto sobredotado de 35 anos, entusiasma-se quando, em sessão, eu evoco o princípio da imagem-recurso: "Mas eu, eu sempre faço isso! Quando eu era pequeno, nós íamos todos os verões à nossa casa de campo. Eu fazia geralmente bicicleta e eu passava ao lado de um campo muito bucólico semeado de flores selvagens amarelas e brancas. Este campo me fascinava. Para mim, era a imagem da felicidade. Então, quando eu tinha um pesadelo, no escuro de meu quarto, eu fazia ressurgir esta imagem na minha cabeça e logo em seguida eu me sentia melhor. Eu adorava em particular esta brisa leve que fazia movimentar muito docemente as ervas altas e as flores, isto me dava a impressão que se expulsava todas as ideias tristes. Mesmo hoje, chega a ideia de utilizar esta recordação quando eu estou estressado. Eu faço reaparecer esta imagem, como se eu a tivesse sob os olhos, e eu experimento instantaneamente uma sensação de calma. Isto me renova as forças. É quase mágico!"

Eis aqui bem a prova de uma utilização 'terapêutica' da memória. É provável que numerosos sobredotados tenham sabido instintivamente, como Léo, utilizar os benefícios das imagens-recurso. Mais a memória é poderosa, o que é o caso para os sobredotados, mais o sonho é carregado de sensações associadas que vão reforçar a potência evocadora da imagem-recurso e seus benefícios.

Como utilizar a imagem-recurso? 

Pode-se comparar o princípio da utilização da imagem-recurso a um dispositivo que nos projetaria sobre nossa tela mental desde que nós tivéssemos necessidade de fazer desviar nossos pensamentos. No mais, sabe-se hoje que, no nosso cérebro, os circuitos que transportam as emoções pelas zonas positivas ou negativas estão muito próximos e que se pode passar rapidamente de um a outro. Do riso às lágrimas. Esses conhecimentos novos sobre a neurofisiologia das emoções explicam a ação mobilizadora das imagens-recurso que permitem transportar nosso espírito através de extensões calorosas e agradáveis: o estado emocional geral aí se encontra  espontaneamente transformado.

As capacidades da memória podem também desenvolver competências inéditas

UMA MEMÓRIA VISUAL INABITUAL
Nós estamos na passagem do balanço. Eu coloco uma questão de cálculo mental a Thomas, oito anos, Seu olhar se imobiliza, como se ele olhasse atrás de minhas costas (eu estou diante dele). Para fazer seus cálculos, Thomas visualizava os objetos que ele via atrás de mim e os fixava na sua memória a curto prazo. Depois, ele manipulava mentalmente esses objetos para obter a solução, justa, do cálculo.

A MEMÓRIA A LONGO PRAZO SOBREUTILIZADA
Nas experimentações científicas recentes, apareceu que os jovens adultos utilizavam a memória de longo prazo para resolver muito rapidamente os problemas complexos de cálculo mental. No lugar de ativar as operações necessárias, eles iam procurara na memória a longo prazo os resultados de cálculos que eles tinham feito precedentemente e cujos dados estavam próximos daqueles desse novo problema. Eles visualizavam as respostas sobre sua tela mental.
Surpreendentes procedimentos, muito diferentes dos correntemente empregados, e que traduzem bem as competências inéditas da memória visual dos sobredotados. Competências confirmadas pelas neurociências. 

OS TRUNFOS DESSA FORMA PODEROSA DE MEMÓRIA
O interesse? Uma memória fotográfica que pode estocar, intactas, cenas inteiras (reais ou abstratas) com todos os detalhes. Um indício, e a imagem completa revém em memória e pode ser novamente utilizada. Esta memória, mesmo nos adultos que pensam ter sufocado suas capacidades intelectuais, está sempre presente. 

COMO UTILIZAR ESTA SUPERMEMÓRIA?
Para reativá-la, abra os olhos, olhe, feche os olhos, descreva o que você vê na sua cabeça. Então? Parecido em todo mundo, pensa você? Teste e compare. Você se dará conta que você registrou mil e um detalhes passados despercebidos no seu teste! O exercício é fácil e muito reconfortante pois você pode aumentar a dificuldade e reencontrar uma potência de memória que vos proporcionará uma grande jubilação e que, eu tenho certeza, você saberá utilizar eficazmente na sua vida!

>> Jogar com sua inteligência como com um jogo de "pequeno químico"
A inteligência disseca e carrega uma compreensão total da menor das componentes do que se observa, do que se pensa. Pode-se então jogar em examinar até a menor unidade, mesmo se na ponta de um momento inventa-se hipóteses novas. Pode-se provocar um problema difícil e em seguida juntar todas as peças do puzzle: como refazer uma nova imagem? Quando se tem todos os fragmentos, pode-se 'recompor'. Mesma coisa com uma ideia, um pensamento: desenvolve-se até o infinito, exagera-se para descrevê-la num máximo de linhas e depois se reacelera, e se resume. Na realidade, instaura-se uma sucessão de movimentos: num primeiro tempo, diminui-se o pensamento, o tempo. Alonga-se cada ideia, cada proposição, ao máximo. Depois se lhe dá um ritmo resistido, uma rapidez de tratamento das informações coligadas. O cérebro se remete em hiperativação e procurar acelerar-se o mais possível. Depois, retém-se e se reescreve a história: guardando o que é essencial, jogando o acessório, o supérfluo, o inútil, valorizando o que aparece como prioritário, positivo, construtivo, tranquilizador. "Joga-se" com o cérebro e nele fazemos exercícios de estilo utilizando todas as competências: a rapidez, a precisão, a análise.
* Um jogo de pensamento que permite aprofundar ideias e explorar as mais ínfimas componentes. 
* Uma fonte de inspiração poderosa para inventar novas teorias, novos sistemas de pensamento.
* Manipular seus pensamentos para se aventurar ao centro de si mesmo.

Com Stevan em terapia, nós empreendemos um projeto ambicioso: determinar a menor parcela de identidade que constitui o núcleo de cada personalidade. Stevan, entre duas sessões, inunda-se de teorias de todos os grandes pensadores de nosso tempo que refletiram sobre esta matéria psicofilosófica. Ele leu várias obras por semana. Certamente, Stevan fez isso pois é para ele uma primeira etapa para avançar na sua própria vida. Ele quis primeiro compreender, a ele e aos outros, para empreender seu projeto de vida. Trata-se para Stevan de uma passo pessoal incontornável.
Eu o acompanho assim na sua reflexão estimulada que as sessões terapêuticas tornam-se os catalizadores. Estamos na construção de um sistema que constitui a essência da avaliação de Stevan. Ele desenha seus modelos: uma pequena porção de "terra" rodeada de estacas para determinar os contornos. Cada estaca simboliza uma parte de si. A implantação dessas estacas podem assim evoluir ao longo da vida. O sistema de Stevan ilustra a concepção de identidade: ser sempre parecido, a porção original que não pode ser reduzida, tudo estando diferente, nosso território identitário alarga-se, modifica-se segundo as experiências, as evoluções pessoais. Stevan quer fazer uma teoria que possa servir para melhor compreender o homem e ajudar aqueles que estão à deriva. Por que não? O que é certo é que esta ilustração terapêutica representa precisamente a maneira que a inteligência pode ser utilizada para construir e se reconstruir. 

>> A inteligência e arborescência: ideias por milhares...
Sim, nós temos falado muito disso, a arborescência de pensamento pode desordenar as ideias. Sobretudo quando se deve organizar e estruturar o pensamento. Mas, em outros contextos, aprender a explorar este pensamento arborescente pode se tornar a fonte de um grande número de ideias. 

O 'Script-Mind' (1): anotar as ideias aos poucos
((1) técnica terapêutica que eu tenho pessoalmente introduzido e assim denominado.)
A técnica: parte-se de uma ideia, pouco importa qual. Uma nova ideia surgiu, anote-se-a. E anota-se tudo, estritamente tudo, mesmo o que parece sem interesse ou insignificante. Toma-se várias folhas brancas sobre as quais serão escritas as ideias surgidas da arborescência. Uma folha por tema, já que a ordem não é lógica e seqüencial, deve-se inscrever as ideias na medida que aparecem e categorizá-las agrupando-as por folha. Para-se quando quiser. E ao final, reencontra-se um certo número de folhas sobre as quais se ficará surpreso de reler o que foi anotado.
Habitualmente, a ativação da arborescência é tão rápida que numerosas ideias, associações de ideais, pensamentos diversos se apagam tão logo ativadas. Anotá-las permite tomar consciência e retornar àquelas que nos interessam. Isto permite também tomar conhecimento do que se tem "dentro da cabeça". É uma nova ferramenta ao serviço do conhecimento de si.
Esta técnica permite canalizar, mas também não esquecer. Os sobredotados têm medo de esquecer. Eles têm medo de perder suas ideias. E eles a perdem frequentemente aliás! Numa conversação, eles têm necessidade de pegar rapidamente a conversa sob o risco de ver sua ideia lhe escapar, o que o contraria muito. Mas o pensamento vai tão rápido que em alguns mil segundos, ele já passou para um outra coisa. Esse medo do esquecimento vai conduzir alguns a se enlaçar em seu pensamento, a ficar voluntariamente atentos ao que se desenrola na sua cabeça, sob o risco de se castrar do ambiente. 

"Quando eu era pequeno, eu não compreendia tudo e eu procurava tudo compreender, e depois eu me dei conta que a coisa mais horrível era o esquecimento. É preciso sempre tudo reconstruir. Nada é jamais conquistado." Étienne, dezoito anos. Então Étienne, hoje, permanece fixada sobre si mesma para reter todas suas ideias e toda sua compreensão do mundo. Ela está isolada socialmente.

* A técnica do Script-Mind é uma alternativa ao esquecimento. Desembaraçando seu pensamento, ela permite adquirir novos espaços interiores onde poderemos ser acolhidos de novos pensamentos, de novos prazeres de pensamento, de novas experiências de pensamento.

>> A inteligência em grande ângulo: um trunfo multiuso!
Na vida pessoal ou no universo profissional, esta inteligência singular, capaz de pensar um problema ativando simultaneamente representações múltiplas, alarga consideravelmente a compreensão e a análise. Cada problema pode ser estudado sob vários ângulos. Nenhum será negligenciado. Tudo será explorado. 
E, ao final, uma avaliação rara e exaustiva, um poder de reflexão fora do comum, uma visão esclarecida e potencial. Um imenso trunfo a utilizar sem moderação!

Viagem ao coração do pensamento
Como um passeio à vontade do vento, o nariz no ar. Um passeio aleatório no fio desses caminhos de pensamento. Como quando se lê um dicionário e que se salta de uma palavra a outra, de uma ideia a outra, de uma etimologia a uma outra... então as conexões se estabilizam. Dos laços que a priori não teriam podido existir. Viagem no pensamento onde as barreiras do tempo, do espaço se apagam mas também aquelas da lógica, do racional. Nem se restringem nem se impõem freios. O prazer do passeio, é tudo. Esquecer o medo e a dúvida. A autocrítica também, instantânea: é nulo! Certamente não. E mesmo se o fosse, por que não?